Com foco nos negócios, programas ajudam cooperativas a conquistar mercados

Pesquisa recente realizada pelo Sistema OCB mostra que as cooperativas são cada vez mais conhecidas pelos brasileiros e que 88% consideram o coop um modelo de negócio atual, inovador ou moderno. Para transformar essa admiração e reconhecimento em resultados, a Casa do Cooperativismo Brasileiro aposta em estratégias de negócios para aumentar o faturamento das cooperativas de forma organizada e sustentável e fazer com elas cheguem a cada vez mais cooperados e consumidores. 

Com esse foco, desde o ano passado, o Sistema OCB tem uma área exclusiva de negócios, que trabalha de forma articulada com as organizações estaduais para apoiar as coops de todo o país a prospectar e fechar bons negócios. 

“O Sistema OCB trabalha há mais de cinco décadas para oferecer soluções que visam a sustentabilidade dos negócios das cooperativas brasileiras e, nos últimos anos, principalmente após os efeitos do impacto econômico pós-pandemia, temos percebido a necessidade de atuar cada vez mais próximos das nossas cooperativas nesse sentido”, explica a  coordenadora de Soluções de Negócios do Sistema OCB, Pamella de Lima. 

A nova estrutura reúne as iniciativas de desenvolvimento mercadológico de cooperativas que já existiam e é responsável pela elaboração de novas soluções de negócios. O objetivo do novo time é claro:  ajudar as cooperativas brasileiras a acessar oportunidades de novos mercados e clientes para vender mais e melhor, de maneira sustentável.

Uma das ferramentas para essa missão é o Programa NegóciosCoop Nacional, criado para apoiar  pequenos e médios empreendimentos cooperativos, com soluções direcionadas de acordo com o tamanho e perfil das coops. Em 2023, a iniciativa começou a ser implementada de forma piloto com cooperativas agropecuárias de pequeno porte (especialmente da agricultura familiar e extrativistas) e de artesanato da Região Norte. 

O programa começa com um diagnóstico presencial aplicado com o apoio de analistas do Sistema OCB e de uma consultoria técnica contratada, em que os cooperados realizam uma análise completa da situação do empreendimento em cinco aspectos:  organização social, produção, gestão, agregação de valor e verticalização de cadeia e mercado. A partir dos resultados dessa avaliação, é traçado um plano de ação que indica consultorias, instrutorias e eventos de acesso a mercados focados em promover novos negócios e conexões profissionais. 

“Todo o processo é acompanhado por técnicos das organizações estaduais do Sistema OCB, a fim de que a cooperativa tenha apoio do início ao fim do programa. O objetivo final é que a partir de um posicionamento organizado a cooperativa acesse novas oportunidades de negócio e consequentemente aumente o seu faturamento”, explica Pamella Lima. 

Até abril deste ano, o Programa NegóciosCoop atendeu 41 cooperativas pelo Brasil, inclusive algumas em plena Amazônia, acessíveis apenas por barco, em um total de 1.718 horas de consultorias realizadas. 

“Os resultados têm sido significativos,  temos observado ganhos como a compreensão e sentimento de dono do negócio pelos cooperados, conquista de novos clientes institucionais e privados, captação de recursos, entrada de novos cooperados, aumento de faturamento e entendimento claro do cooperativismo como um modelo de negócio”, lista a coordenadora. 

Este ano, o Programa NegóciosCoop entrou na fase de escala e chegará a cooperativas de todos os estados do país. As equipes das organizações estaduais que irão atuar no programa já começaram a receber treinamento imersivo e terão suporte constante do time nacional do projeto. Além disso, as cooperativas de reciclagem serão as próximas a receber uma versão customizada do programa. 

Primeira nota fiscal 

Uma das participantes da fase piloto do Programa NegóciosCoop foi a Cooperativa de Agricultura Familiar de Serra Pelada (Cooasp), de Curionópolis, no sudeste do Pará. Após o programa, a cooperativa emitiu sua primeira nota fiscal e se prepara para comercializar parte de sua produção para a merenda escolar do município. 

A Cooasp produz alface, coentro, cebolinha, couve e outras hortaliças há seis anos, mas vendia sua produção de maneira informal. A mudança de rota veio com a participação do Programa NegóciosCoop, segundo o diretor presidente da cooperativa, Ramon Marques. 

“Três meses após o programa, já fizemos a primeira emissão de nota fiscal, assinamos contrato com uma grande empresa que fornece alimentos para refeitórios, nos estabelecemos no mercado local e estamos expandindo para o mercado regional”, conta. 

Além do resultado imediato, Marques diz que a Cooasp ganhou autonomia e fortaleceu sua identidade cooperativista, se apresentando para os consumidores como uma opção social e economicamente viável para gerar emprego e renda com a agricultura familiar em um município conhecido pela exploração garimpeira. 

Parte da produção da Cooasp agora irá direto para a merenda escolar das escolas da região, depois que  a Coop venceu a chamada pública do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), uma iniciativa federal que destina recursos para alimentação escolar nos estados e municípios brasileiros. Segundo Marques, a cooperativa também se prepara para fornecer suas hortaliças para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que compra produtos da agricultura familiar.

Para atender à demanda, a Cooasp teve que triplicar a produção nas lavouras e, até o fim do ano, planeja saltar de 20 mil para 200 mil hortaliças por mês. “Em junho também vamos inaugurar uma agroindústria de polpa de frutas e fabricação de doces e geleias artesanais. Nossa meta até 2030 é ser a maior cooperativa de agricultura familiar da região Carajás  e uma das cinco maiores do estado do Pará”, planeja o presidente da Cooasp. 

Novos mercados para o coop brasileiro

Além do Programa NegóciosCoop Nacional, o Sistema OCB tem estratégias de negócios para cooperativas de outros ramos e tamanhos, seja no mercado brasileiro ou internacional. 

“Temos iniciativas para apoiar a inserção em mercados, ampliar e diversificar as vendas dos produtos por meio de participação em feiras, rodadas de negócios e missões internacionais”, lista Pamella Lima.

Em 2023, o Sistema OCB apoiou a participação de 20 cooperativas de artesanato e agricultura familiar em duas importantes feiras do país: a 5ª Feira Nacional de Artesanato e Cultura (Fenacce), em Fortaleza; e a 30ª Agrinordeste, em Olinda.

As coops expuseram seus produtos em um estande institucional do Sistema OCB, chamado de Loja Cooperativa, uma estratégia para atrair a atenção do público para os produtos do cooperativismo. Na 5ª Fenacce, as vendas na Loja Cooperativa totalizaram R$61 mil e as coops assinaram 40 contatos nacionais e 24 internacionais, com previsão de vendas de R$130 mil. 

Em 2024, pelo menos 40 cooperativas brasileiras irão participar de quatro feiras de negócios de grande relevância no cenário nacional. O Sistema OCB participará dos eventos com um estande chamado "Cooperativas do Brasil", em que as coops poderão conquistar novos clientes e ampliar sua rede de contatos.

Outra solução de negócios tem aproximado as cooperativas do maior comprador do Brasil: o Poder Público. De forma online e gratuita, o serviço Cooperativas nas Compras Públicas monitora as oportunidades de compras governamentais, sejam municipais, estaduais ou federais, e alerta as cooperativas cadastradas de forma personalizada sobre editais e licitações lançados pelo governo. Em 2023, a plataforma registrou 235 cooperativas cadastradas e monitorou mais de 35 mil editais  de interesse das coops. 

Em outra frente de negócios, o Sistema OCB aposta na intercooperação para gerar mais resultados. É o Coop Compra de Coop, uma iniciativa realizada durante a Semana de Competitividade de 2023 que ajudou 13 coops dos ramos Agropecuário, Transporte, Trabalho e Produção de Bens e Serviços a fecharem negócios com cooperativas de todo o país durante o evento.

As cooperativas vendedoras receberam o apoio do Sistema OCB para gravar pequenos vídeos sobre seus produtos, que foram transmitidos no fim de cada palestra. Uma área do evento também foi reservada para que as coops pudessem receber clientes, negociar vendas e prospectar contratos futuros. 

No mercado internacional, o foco da área de negócios é abrir fronteiras para que os produtos coop brasileiros ganhem mercado mundo afora. Esse trabalho é feito em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), por meio do Programa de Qualificação para Exportação do Cooperativismo (PEIEX Coop), que tem foco na sensibilização e capacitação individualizada de cooperativas para aumentar sua competitividade exportadora. 

Além da promoção das exportações, outra porta de entrada para os produtos coop no exterior é a participação em feiras, rodadas de negócios ou missões internacionais. “As missões possibilitam o fortalecimento de laços e parcerias estratégicas que ajudam as cooperativas a ingressarem nesses mercados. Por sua vez, as feiras internacionais funcionam como vitrines para que as cooperativas apresentem seus produtos em escala global, criando oportunidades de contato e negócios”, explica a coordenadora. 

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