Internet cooperativa amplia inclusão digital no interior do Brasil
Usar as redes sociais pelo celular, fazer um pix, navegar por sites de notícias e entretenimento são ações simples para a grande maioria dos brasileiros. No entanto, em muitas áreas rurais, essa rotina ainda é limitada por um desafio persistente: a falta de conectividade. Para 73 mil pessoas em várias partes do país, as cooperativas têm mudado essa realidade com a oferta de internet acessível e de qualidade.
O modelo cooperativista tem promovido inclusão digital em regiões mais afastadas, cumprindo seu papel de aproximação com a comunidade e levando desenvolvimento socioeconômico ao seu entorno. “Em 2022, a internet cooperativa chegava a 40 mil brasileiros, agora, esse número quase dobrou. Os dados reforçam o compromisso das cooperativas com a oferta de serviços de qualidade e a superação de desafios estruturais que ainda marcam o setor de telecomunicações no Brasil”, destaca a analista técnico institucional de Infraestrutura do Sistema OCB, Thayna Côrtes.
Ao garantir a conexão em regiões onde as empresas convencionais não chegam, as cooperativas estão promovendo uma revolução no campo. A internet viabiliza, por exemplo, o avanço da agricultura de precisão, com o uso de sensores, drones e equipamentos agrícolas conectados para monitorar e gerenciar cada aspecto da produção. Com as novas tecnologias digitais, os produtores conseguem aumentar a produtividade, reduzir custos e aprimorar a gestão dos negócios.
“A conectividade à internet rural abre portas para os agricultores acessarem informações de mercado em tempo real, permitindo uma tomada de decisão mais informada sobre preços, demanda e tendências. Além disso, plataformas de comércio eletrônico e aplicativos podem facilitar a compra e a venda de produtos”, explica a analista do Sistema OCB.
A internet cooperativa também contribui para a segurança dessas regiões, por meio do videomonitoramento em tempo real, e facilita o cumprimento de normas e regras fiscais para produtores rurais. Para se ter uma ideia, no ano passado, o Ministério da Economia teve que prorrogar a obrigatoriedade de emissão de Nota Fiscal de Produtor Eletrônica (NFP-e) porque apenas 28% dos estabelecimentos rurais do país possuem acesso à internet, o que inviabiliza a expedição do documento.
“Com a ampliação do serviço no meio rural, torna-se possível a exigência da NFP-e, possibilitando maior controle da movimentação de produtos agropecuários e, consequentemente, arrecadação justa nas transações”, detalha Thayna Côrtes.
Levar internet para o meio rural também tem outro impacto fundamental para as famílias que vivem no campo: manter os jovens no interior e garantir a continuidade dos negócios. Sem conexão com o mundo digital, muitos preferem migrar para cidades maiores, deixando para trás a oportunidade de empreender, gerar renda e diversificar a propriedade da família.
“Os jovens, ao terem acesso às redes sociais, ao entretenimento e a multisserviços oferecidos por meio da internet, sentem-se valorizados, podem interagir socialmente no ambiente digital, buscar qualificação, trocar experiências com outros jovens e aproveitar todas as possibilidades do mundo digital de forma conjunta com o trabalho no campo”, afirma a especialista.
Conexão coop no Sul do Brasil
No Rio Grande do Sul, a Coprel Telecom é referência nacional no cooperativismo de telecomunicações, com atuação consolidada, forte presença em áreas rurais e qualidade nos serviços prestados. Criada há 15 anos, a coop atende a mais de 50 mil clientes de internet distribuídos em mais de 60 municípios. A coop integra a Coprel, cooperativa de eletrificação rural criada em 1968. O grupo hoje atua nas áreas de geração, distribuição, comercialização de energia e telecomunicações.
“Enquanto a maioria das operadoras convencionais atua com foco puramente comercial e prioriza regiões urbanas de alta densidade populacional, onde há maior retorno financeiro, a Coprel Telecom tem a missão voltada ao atendimento das necessidades da comunidade, mesmo nos locais mais remotos. Temos um forte compromisso com o meio rural, por isso priorizamos justamente esses locais, investindo em infraestrutura de qualidade onde antes não havia acesso à conectividade”, afirma o diretor da Coprel Telecom, Luis Fernando Volpato.
Atualmente, a cooperativa gaúcha oferece internet 100% fibra óptica com conexão estável e tecnologia de ponta, TV e streaming, telefonia móvel e fixa com cobertura nacional, planos acessíveis e suporte local, videomonitoramento e outros produtos.
Juntamente com o poder público, a Coprel Telecom está ampliando a inclusão digital em diversos municípios gaúchos. No ano passado, a coop começou a implantar um projeto de internet banda larga em 64 escolas públicas, com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No total, mais de 5 mil alunos de 33 cidades serão beneficiados com a iniciativa.
“A internet da Coprel não é apenas um serviço, é um instrumento de inclusão digital e de permanência das famílias no campo, onde a presença digital se tornou tão importante quanto a energia elétrica”, destaca Volpato.
Somente em 2024, a cooperativa construiu mais de 1,5 mil km de fibra óptica, atendendo, em média, 3 mil famílias de agricultores. Além do investimento em equipamentos de ponta, a coop também está à frente de projetos sociais como o “Conexão do bem”, que visa o retorno do valor do plano contratado para a comunidade.
Desafios e próximos passos
Os bons resultados mostram que o cooperativismo de telecomunicações está no caminho certo e pode garantir inclusão digital de mais brasileiros. Por enquanto, a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) prevê que as cooperativas estão autorizadas a atuar apenas no Serviço Limitado Privado (SLP), o que significa que podem prestar serviços exclusivamente aos seus cooperados, fato que limita a atuação das coops nas áreas rurais, onde há muita demanda do segmento.
Uma saída encontrada pelas coops foi a constituição de empresas limitadas vinculadas a cooperativas de eletrificação rural, o que permite a prestação de serviços tanto a cooperados quanto a clientes não cooperados, inclusive em áreas urbanas.
Mas a projeção para o futuro é boa. O Projeto de Lei nº 1.303/2022, em tramitação no Senado Federal, assegura a prestação dos serviços de telecomunicações por cooperativas e pode ser um grande passo para o cooperativismo.
Segundo Thayna Cortês, a proposta representa um avanço importante ao trazer maior segurança jurídica para que essas organizações possam atuar plenamente no setor. A aprovação deve impulsionar novos investimentos, promover a democratização do acesso à internet e consolidar o cooperativismo como um agente relevante também nesse setor da infraestrutura nacional.
“As cooperativas, por sua proximidade com as comunidades e presença em regiões remotas, têm todas as condições para se tornarem vetores estratégicos de inclusão digital, promovendo o acesso à internet de qualidade em locais historicamente negligenciados, com grande vazio de conectividade”, analisa.