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Mas, afinal, o que é cooperativismo?

Mais que um modelo econômico, o cooperativismo é um estilo de vida compartilhado por pessoas com o propósito de construir um mundo melhor para todos. Também conhecido como coop, o movimento surgiu no Século 19, na Inglaterra, em um contexto econômico de alta inflação, desemprego e em processo de automatização de tarefas que antes eram realizadas por pessoas. 

Da crise, veio a necessidade da cooperação: a solução encontrada por um grupo de tecelões da cidade de Rochdale foi se juntar para comprar mercadorias, estocá-las e vender aos membros do grupo por preços mais justos, criando a primeira cooperativa da história. 

O modelo deu origem ao que hoje chamamos de economia compartilhada, em que todos os membros são iguais tanto em hierarquia e responsabilidades quanto em vantagens. Mas o cooperativismo é bem mais que isso, segundo Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB, a organização que representa o coop no Brasil. 

“Somos o enlace de pessoas unidas para a construção de um bem social comum, atuamos a favor de uma vida mais justa e próspera para todos e por um modelo de negócio que promova o desenvolvimento das comunidades, com inclusão econômica e social”, explica. 

O modelo cooperativista foi desenvolvido em torno de sete princípios, que funcionam como diretrizes para orientar a atuação de todas as cooperativas, o lugar onde o coop acontece. 

 

Sete Princípios do Cooperativismo

1- Adesão livre e voluntária.

2- Gestão democrática.

3- Participação econômica.

4- Autonomia e independência.

5- Educação, formação e informação.

6- Intercooperação.

7- Interesse pela comunidade.

 

O cooperativismo na prática 

Traduzindo os princípios, qualquer pessoa pode se tornar um cooperado, com igual direito de voz e voto. Esse cooperado é, ao mesmo tempo, dono do negócio e beneficiário ou destinatário do bem ou serviço oferecido.

Essa lógica faz da cooperativa um agente coletivo que, portanto, não retém em si investimentos, servindo apenas como meio de campo neutro – um facilitador entre o bem ou serviço e o mercado consumidor. “Isto, considerando que, agindo sozinho, esse cooperado teria mais dificuldades em alcançar seu público-alvo”, reforça Tania Zanella.

Equilíbrio econômico e social

Historiadores e cientistas sociais afirmam que a vida em comunidades é, desde as cavernas, uma necessidade do ser humano como meio de sobrevivência. Por essência, valores como honestidade, transparência, responsabilidade social e preservação do meio ambiente para o desenvolvimento sustentável, vistos como qualidades que possibilitam o relacionamento e a convivência, já estão na raiz do cooperativismo. 

No Brasil, o movimento surgiu em 1889, com a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, em Minas Gerais. Outro marco para o coop brasileiro ocorreu em 1902, quando o padre Theodor Amstad fundou a Sicredi Pioneira – primeira cooperativa de crédito do país. 

Foram anos de avanços para produzir cada vez mais e melhor, atendendo às demandas da população, com foco no cuidado com as pessoas, no compromisso com as comunidades e respeito à natureza.

Atualmente, segundo dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024, o país tem 4.509 cooperativas, que reúnem 23,4 milhões de cooperados. As cooperativas atuam em diferentes setores da economia, organizadas em sete ramos: Agropecuário, Consumo, Crédito, Infraestrutura, Saúde, Trabalho, Produção de Bens e Serviços; e Transportes.

Em cada segmento, uma cooperativa puxa a outra, em um movimento de progresso e com resultados compartilhados também com as comunidades onde estão inseridas.

 

Coop em números

 4.509 cooperativas no Brasil

+ de 23,4 milhões de cooperados 

+ de 550 mil empregos gerados

R$ 692 bilhões de ingressos gerados em 2023

 

Mentalidade sustentável

A evolução do cooperativismo ao longo do tempo não se deu apenas na quantidade de cooperativas e cooperados. Em todo o mundo, o coop se consolidou como um modelo de produção moderno e inovador e agregou preocupações alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e aos pilares ESG - ambientais, sociais e de governança. 

“Esta é uma nova fase da humanidade. Novas gerações chegam com novas maneiras de viver e se relacionar com as pessoas e com o mundo. Observar essas transformações constantes faz compreender que o cooperativismo sempre teve tudo a ver com esse novo mindset sustentável e plural e está, portanto, a um passo do futuro”, afirma Tania Zanella. 

Cooperativismo do futuro 

Seguir em frente nesse caminho para seguir construindo o cooperativismo do futuro requer planejamento. Em maio, durante o 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), foram traçadas as diretrizes estratégicas para os próximos cinco anos. Passos como a promoção da cultura cooperativista e difusão do movimento em todos os níveis foram pensados no contexto de formação de uma consciência coletiva. 

“As diretrizes expressam um posicionamento uniforme e harmônico importante para que, nesse tempo de ação, se tenha um cooperativismo em crescimento sustentável, inovador e inclusivo. Isso faz das coops, protagonistas na construção de um futuro mais justo e cooperativo”, explica Tania Zanella.

Capilaridade e presença

O cooperativismo é diversificado e plural. As cooperativas produzem bens e serviços  que atendem às necessidades de pessoas, empresas, governos e outras organizações. Estamos em 3.080 municípios brasileiros (55,3% do total), com mais de 9 mil postos de atendimento. 

Segundo dados do AnuárioCoop, as cooperativas brasileiras produziram R$692 bilhões em resultados em 2023. Além disso, gerou mais de 550 mil empregos, com impactos diretos na  economia dos municípios em que as coops estão presentes. 

No mesmo período, o cooperativismo foi responsável por destinar R$31 bilhões para salários e outros benefícios destinados a colaboradores, número que reflete o crescimento da força de trabalho do coop e o investimento contínuo em recursos humanos.

O cooperativismo está presente na vida dos brasileiros de diferentes maneiras: 

- No supermercado, na padaria, nos alimentos que chegam à sua mesa, como feijão, café e vegetais.

- Nos hospitais e clínicas de referência.

- Nos investimentos dos rendimentos financeiros.

- Nas estradas que levam produtos até você ou permitem aquela viagem de férias.

- No campo, gerando valor de bens sustentáveis para consumo.

- No mercado de trabalho, com oportunidades dignas e justas.

Para identificar tudo isso, é só procurar o carimbo SomosCoop, a marca registrada das cooperativas brasileiras. 

Quer conhecer mais sobre o cooperativismo?

Acesse o e-book disponibilizado pelo Sistema OCB e veja como as cooperativas estão organizadas e estruturadas em torno de ideias de sustentabilidade e geração de emprego e renda de modo justo para todos.

A leitura vale a pena e você ainda fica sabendo o passo a passo para montar a sua cooperativa.

 

Uma vida dedicada ao cooperativismo

O cooperativista José da Paz Cury, consultor e professor da Faculdade Unimed, tem sua própria definição de cooperativismo: “Não é ajuda, em que você faz algo pelo outro. Trata-se de apoio mútuo, porque juntos fazemos um com o outro”, afirma. 

Natural de Oliveira (MG), o professor foi batizado José em homenagem ao avô árabe Joseph. Da Paz, por conta da devoção que o pai dele tinha por Nossa Senhora e, também, devido ao fato de ter nascido no ano do fim da 2ª Guerra Mundial.

Há cinco décadas, o administrador especializado em psicologia social estuda os desafios e vantagens do cooperativismo e, segue, aos 79 anos, dando cursos e palestras sobre o tema. O movimento é algo que ele vivencia até dentro de casa: em julho de 2024, José Cury completa 50 anos de casamento com a esposa Maria Eugênia, longevidade que ele atribui ao fato de ambos terem a conduta cooperativa de evitar conflitos. 

Segundo Cury, o cooperativismo precisa chegar a mais brasileiros e algumas estratégias para isso são mais investimentos em educação cooperativista e intercooperação.

“A nossa cultura privilegia a competição como postura de sucesso, quando na realidade a sobrevivência humana, desde os primórdios do ser humano, se deu pela cooperação”, pondera o professor. 

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