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ESG na prática: conheça organizações que levam o assunto a sério

O termo ESG – sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança – tornou-se reconhecido globalmente há 20 anos, quando a ONU publicou, em conjunto com instituições financeiras, o relatório "Who Cares Wins" (“Quem se importa, ganha”, em tradução literal do inglês). O texto conta com recomendações práticas e princípios que devem orientar as organizações. Segundo a Global Sustainable Investment Alliance, mais de 30 trilhões de dólares foram investidos em ESG por todo o planeta em 2022.

As diretrizes ESG e o cooperativismo possuem convergências naturais entre si. O modelo de negócio preza pelo desenvolvimento local de forma sustentável, pela preocupação social e pela gestão coletiva e transparente, aproximando-se das três dimensões do movimento ESG.

As cooperativas brasileiras querem mostrar ao mundo seus cases de desenvolvimento sustentável. As organizações do setor pretendem levar a pauta cooperativista à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), que acontecerá em Baku, no Azerbaijão, entre 11 e 24 de novembro. 

Conheça a seguir exemplos de cooperativas brasileiras que aplicam conceitos ESG em seus três pilares: Ambiental, Social e Governança.

Ambiental

O “E” de ESG representa o aspecto Ambiental (Environmental, em inglês). Boas práticas nesse sentido incluem adotar medidas preventivas contra desafios ambientais, como as mudanças climáticas, e trabalhar pelo desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

Letra Financeira sustentável é reconhecida internacionalmente

O Sicredi, um sistema de cooperativas de crédito, tornou-se pioneiro ao emitir, em 2022, a primeira Letra Financeira Pública Sustentável do Brasil. A operação contou com apoio da companhia holandesa Sustainalytics, especializada em projetos ESG.

A Letra Financeira captou R$ 780 milhões em recursos convertidos para projetos de sustentabilidade. Cerca de 40% do montante (R$ 312 milhões) foi repassado a iniciativas de energia sustentável, majoritariamente solar. O restante foi alocado na geração de empregos, através do financiamento de micro, pequenas e médias empresas lideradas por mulheres – beneficiadas com 30%, R$ 234 milhões – ou localizadas em municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional – contempladas com os outros 30%.

O Sicredi foi premiado pelo projeto no Global SME Finance Awards 2023, na categoria “Título Sustentável do Ano”. A Letra Financeira ainda recebeu menção honrosa em “Melhor Financiador para Mulheres Empreendedoras”.

Sicoob Credip fortalece cafeicultura de produtores locais em RO

A Credip, uma das cooperativas do sistema financeiro Sicoob que atua em Rondônia, colaborou com o desenvolvimento da cafeicultura no estado. A região atualmente convive com problemas ambientais – por exemplo, mais de 1.800 focos de queimadas foram registrados apenas em setembro, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em meio a esse cenário, a agricultura local orientada por inteligência da Credip aparece como exemplo de produtividade sustentável.

Os pequenos produtores são orientados por estratégias que os ajudam a não se tornarem potenciais desmatadores. A Credip deu suporte financeiro aos avanços científicos que permitiram a elaboração de uma genética de café específica da região. Com tecnologias produtivas, o estado aumentou sua produção de 2 milhões de sacas de café para mais de 3 milhões, mesmo reduzindo em mais de 80% na área plantada.

O café é a quinta cultura mais produzida em Rondônia (mais de 137 mil toneladas), segundo dados do governo estadual sobre o ano de 2020. O produto da região tem conquistado reconhecimento nacional. Cafés especiais torrados rondonenses ficaram nas cinco primeiras posições em prêmio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA Brasil Artesanal 2024.

Social

O segundo pilar do ESG é o Social. Corresponde à relação da organização com o seu entorno, incluindo, por exemplo, iniciativas de apoio à diversidade e posicionamento em relação a causas sociais.

Organização demarca presença feminina na agricultura

A Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam), especializada em cafeicultura, lidera o projeto Mulheres Organizadas em Busca da Igualdade (MOBI). O movimento visa trazer inclusão feminina em setor no qual elas ainda são minoria. Segundo o Anuário do Cooperativismo 2024, apenas 18% dos cooperados no setor agropecuário brasileiro são mulheres.

O grupo promove debate sobre desenvolvimento pessoal e profissional, e contribui para o surgimento de lideranças femininas na Coopfam. A cooperativa atualmente é presidida por Vânia Lúcia Pereira da Silva, eleita em 2019 – primeira mulher a alcançar o cargo.

Uma iniciativa de sucesso do MOBI foi a elaboração de uma linha de café feminino, criada para enaltecer e empoderar o trabalho das cooperadas. O produto foi servido na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, levando o trabalho das agricultoras a eventos de repercussão mundial.

Uma nova maneira de atender cooperados surdos

A CooperJohnson, cooperativa de crédito de São José dos Campos voltada aos funcionários da Johnson & Johnson, desenvolveu um canal de atendimento para cooperados surdos. A demanda foi identificada em 2019 e contemplada após avaliações. Segundo dados do IBGE relativos a 2021, mais de 10 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva, e 2,7 milhões possuem surdez profunda.

A tecnologia para tornar os atendimentos mais acessíveis recorreu ao ICOM, um serviço de tradução simultânea de Libras. O sistema triangula a comunicação entre o surdo, o ouvinte e o intérprete através de videochamada, facilitando a troca de informações que antes era limitada a ligações telefônicas.

A CooperJohnson detectou aumento na quantidade de atendimentos ao público surdo. A tecnologia do ICOM ainda fornece métricas que identificam detalhes, como tempo de serviço e o motivo que levou ao contato. Assim, há ferramentas para aprimorar ainda mais a inclusão a esse segmento de cooperados.

Governança

A terceira – mas não menos importante – base do ESG é a Governança (Governance, em inglês). A gestão de uma organização deve ser transparente e combater a corrupção. Esses ideais de comando convergem com a forma cooperativista de gerenciamento.

Estruturação de processos orienta crescimento da Castrolanda

A Castrolanda, cooperativa paranaense com operações agrícolas e industriais, passou por crescimento acelerado na década de 2010. Nesse cenário, a companhia se viu obrigada a aumentar a transparência na seleção e no acompanhamento de projetos. A solução encontrada foi a criação de um escritório de projetos – também conhecido como PMO, sigla para Project Management Office.

O PMO surgiu como forma de alinhar os interesses de todas as áreas da Castrolanda. O escritório estabeleceu uma estrutura para projetos com investimento superior a R$ 200 mil. Todos precisam ser aprovados em colegiado, passando por termo de submissão, análise tributária, legislação ambiental, trabalhista e cálculo de indicadores financeiros. Ao longo de dois anos, gestores de diversas áreas receberam capacitação para lidar com as novas demandas.

A iniciativa alinhou interesses de diferentes setores da Castrolanda e trouxe resultados positivos, como maior previsibilidade de resultados, controle de produção e redução de riscos. Os processos estabelecidos não se aplicam somente ao planejamento dos projetos, contando também com acompanhamento próximo à execução.

Unimed Chapecó vira referência na área da saúde

Operadoras de planos de saúde possuem obrigação legal de adotarem medidas mínimas de governança para atender à Resolução Normativa 518/22 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), levando em consideração transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Entretanto, a cooperativa de Chapecó do sistema Unimed identificou a necessidade de ir além, em benefício da própria cooperativa.

A organização avaliou o que já estava em curso dentro de seu ambiente e se planejou para incorporar práticas avançadas de governança sob liderança do Núcleo de Governança Corporativa, criado em 2020. O Estatuto Social foi reformulado, e os procedimentos passaram por mudanças. O mapeamento de riscos corporativos, o monitoramento da eficácia de ações e o Programa de Integridade para compliance tornaram-se parte do funcionamento.

A iniciativa colocou a Unimed Chapecó à frente da maioria das operadoras de planos de saúde no quesito governança, segundo a coordenadora do Núcleo de Governança Corporativa Josiane Brighenti. A meta agora é institucionalizar as mudanças adotadas e aprimorar a aplicação das boas práticas.

Cooperativismo e ESG

Casos como os detalhados neste texto mostram que cooperativismo tem tudo a ver com desenvolvimento sustentável. Adotar medidas em prol do meio ambiente e da sociedade como um todo é fundamental para esse modelo de negócio.

Para conhecer a fundo mais cases de sucesso, acesse o Cooperação Ambiental! Neste portal, você encontra iniciativas ambientais, ações sociais, detalhes sobre a participação brasileira nas edições da COP e mais sobre o mundo das cooperativas.

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