101º Dia Internacional do Cooperativismo
Este ano, o 101º Dia Internacional do Cooperativismo (DIC) demonstra a capacidade que as cooperativas têm de aliar a produtividade e o desenvolvimento com equilíbrio ambiental e responsabilidade social. Com o tema Cooperativas pelo Desenvolvimento Sustentável, definido pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI), a celebração global pretende destacar as boas práticas do movimento cooperativista no dia 1º de julho.
Também conhecido como CoopsDay, o dia internacional é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em seu calendário oficial. A data é comemorada desde 1923, sempre no primeiro sábado do mês de julho, mas apenas em 1995 – ano do centenário da ACI – a ONU proclamou oficialmente as comemorações anuais. Este ano as cooperativas e seus cooperados divulgarão suas ações desenvolvidas em defesa da construção de uma economia verde, que vai desde a recuperação de nascentes até a atuação para a transição energética.
“Temos inúmeros exemplos de iniciativas das cooperativas em defesa do desenvolvimento sustentável. As do Ramo Agro, por exemplo, há tempos já atuam na recuperação de nascentes e matas ciliares; reaproveitam dejetos para gerar energia de biomassa; e recolhem as embalagens dos insumos utilizadas, o que inspirou, inclusive, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). Agora, com os créditos de carbono, temos mais oportunidades para divulgar nossas práticas e ganharmos por isto. A questão ambiental é pauta fixa no cooperativismo desde o seu surgimento e o Sistema OCB sempre esteve alinhado pelo alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), validados na Agenda 2030 da ONU”, declarou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
A celebração do CoopsDay no Brasil também busca chamar a atenção para as práticas cooperativistas e promover ideais do movimento como solidariedade internacional, eficiência econômica, igualdade, paz e prosperidade mundial. Uma série de ações sociais são disponibilizadas para a sociedade que, por sua vez, pode perceber, na prática, as contribuições do movimento para um mundo mais justo e igualitário. O Dia de Cooperar, ou Dia C, como é mais conhecido, promove eventos voluntários e solidários nas principais capitais e cidades do país, para destacar iniciativas que, muitas vezes, ocorrem durante o ano todo.
Boas práticas
As iniciativas de sucesso das cooperativas vão desde a recuperação de pastagens degradadas, disseminação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), de Sistemas Agroflorestais (SAFs), até outras técnicas de tratamento de dejetos animais e resíduos para redução de emissão de metano, produção de adubo orgânico e geração de energia limpa, por meio da biomassa. Desta forma, as coops têm contribuído para o alcance de metas nacionais e mundiais de redução de emissões e mitigação de efeitos das mudanças climáticas. Confira abaixo algumas iniciativas de sucesso.
Créditos sustentáveis
No Ramo Agro, a Frísia Cooperativa Agroindustrial é responsável pelo Programa Fazenda Sustentável que estimula boas práticas agropecuárias por parte de seus associados. Um caso de destaque é o do produtor paranaense Fabiano Gomes. Ele vendeu 2.281 créditos de soja sustentável para a Alemanha e a Dinamarca que renderam R$ 31 mil. Gomes herdou a fazenda de seu avô e, junto com seus irmãos, aderiu ao projeto para, além de recuperar as áreas degradadas, investir em energia fotovoltaica, captar água de chuva dos telhados e reciclar o lixo. Com as iniciativas, sua propriedade foi certificada pela Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS), o que contribuiu para aumentar a venda do grão no mercado mundial, além dos créditos para outros países.
"Atendemos a 107 requisitos para a certificação da nossa fazenda. Todos os anos há uma auditoria para revalidar essa certificação. Por isso, precisamos estar em dia com os órgãos ambientais, com as leis trabalhistas, com o treinamento dos funcionários, enfim com todas as normas regulamentadoras e com a comunidade do entorno da fazenda. Ganhamos mercado e as novas práticas também ajudaram a aumentar a produção do grão que hoje passa de 73 sacas por hectare”, explica Fabiano.
Água Viva
A preservação das águas é uma responsabilidade de todos e a gaúcha Ceriluz leva a questão a sério. A coop já recuperou oito nascentes e plantou cerca de 11 mil mudas em Áreas de Preservação Permanentes (APPs). O Projeto Água Viva, coordenado por ela, envolve a comunidade, em especial estudantes, na preservação e recuperação de nascentes com plantio de espécies nativas no entorno das fontes de água potável. Segundo o coordenador técnico do programa, Romeo Angelo de Jesus, as informações repassadas para as crianças e jovens sobre os riscos ambientais provocados pelas mudanças climáticas estimulam a mudança de atitude em relação à natureza.
“As novas gerações são agentes de mudança, não só por suas próprias atitudes, mas pelo convencimento de familiares e das comunidades sobre a necessidade de cuidar melhor do futuro do planeta. Como cooperativa do setor elétrico, nossas atividades impactam de alguma forma o meio ambiente. Por isso, fazemos questão de promover programas não só para minimizar esses impactos, mas também para promover a recuperação dos espaços afetados", conta Romeo Angelo, ao destacar também que a coop assumiu o compromisso em gerar energia renovável para seus cooperados com o menor impacto ambiental e o melhor resultado para os consumidores.
O programa já está em sua segunda etapa e mobiliza cerca de 200 estudantes para atuarem como agentes de transformação em suas comunidades. Um estudo sobre a qualidade da água nestas fontes será desenvolvido pelos alunos do mestrado em Sustentabilidade Ambiental, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). No final do ano, os alunos das escolas do município vão demonstrar o que aprenderam na Feira de Conhecimento.
Lixo Zero
A plena reciclagem de resíduos sólidos também é bandeira do cooperativismo. Exemplos de iniciativas nesse sentido podem ser conferida no Projeto Lixo Zero da cooperativa catarinense ViaCredi, e no Programa Descarte Certo, da Capal Cooperativa Agroindustrial, com atuação nos estados do Paraná e São Paulo.
O Lixo Zero busca sensibilizar seus colaboradores sobre geração, separação e destinação adequada de resíduos no ambiente laboral. Só em 2022, ano em que a coop instituiu o projeto, foram recicladas 41 toneladas de resíduos sólidos, o que possibilitou a aquisição e doação de mais de 3 mil livros. Os colaboradores também se beneficiam com a retirada média de 100 livros/mês. Nos primeiros seis meses do projeto foi promovida a campanha de doação de tampas plásticas, que arrecadou 90 kg do material doado a uma instituição de caridade.
Pela iniciativa, a coop foi certificada pela Aliança Internacional Lixo Zero. O documento é concedido as instituições que desviam 90% ou mais de seus resíduos de aterros sanitários. Mesmo antes da certificação a ViaCredi já desviava 88% dos resíduos. “Exemplo de ação que parece pequena, mas que tem o potencial de se multiplicar, com um grande impacto exponencial. A nossa atitude individual pode influenciar o comportamento de muitas pessoas. Pode mudar a cultura e impactar o mundo para melhor”, observa o diretor-executivo, Vanildo Leoni.
A coop também publica as chamadas “Pílulas de Sustentabilidade” em seu portal para sensibilizar e conscientizar seus colaboradores. Parte das ações promovidas, o Dia Sem Copo estimula o uso de canecas próprias e garrafinhas. Quatro mil descartáveis eram utilizados até então, diariamente.
Descarte Certo
E quando o descarte de resíduos precisa de um cuidado especial? Desde 2014, o Programa Descarte Certo da Capal tem ajudado seus cooperados a fazer o rejeite adequado dos resíduos veterinários, como as agulhas das vacinas. A iniciativa recolheu 167 toneladas desse tipo de material, o que possibilitou o fim da queima e da existência de aterros irregulares nas propriedades.
O produtor Marinus Hagens Filho, associado há mais de 30 anos, conta que sempre se questionou sobre a melhor maneira de descartar as agulhas, seringas e frascos de remédio utilizados na imunização dos animais. “Era um passivo que a gente tinha na propriedade, porque não havia onde descartar. Era um problema muito sério, porque sempre havia o risco de contaminação. Algumas coisas ficavam guardadas em tambores, mas outras eram incineradas”, contou.
A Capal recolhe os mais variados resíduos biológicos, químicos e perfurocortantes para atender 100% dos produtores de bovinos e suínos. A retirada é feita por uma empresa especializada e a coop também realiza treinamentos sobre o manuseio e a armazenagem segura destes resíduos. Só em 2023, 10 toneladas já foram retiradas das fazendas. “É uma vantagem competitiva e financeira, porque a gente recebe um adicional no pagamento do leite por manter essas boas práticas, entre elas, o descarte correto”, complementa Hagens Filho.
Manifesto
Durante a COP 27, o cooperativismo brasileiro reafirmou o seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. "Afinal, toda cooperativa — independentemente do tamanho, área de atuação ou país— já nasce com o compromisso de cuidar da comunidade onde atua, o que só pode ser feito com justiça social, equilíbrio ambiental e viabilidade econômica", de acordo com o manifesto. Clique aqui e confira a carta aberta na íntegra.