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Cooperativas de povos indígenas mostram que cooperar é preservar

Você sabia que as Terras Indígenas são as áreas mais preservadas do Brasil? Segundo estudo da rede MapBiomas, a perda de vegetação nativa nesses territórios tem sido muito menor que em outras áreas. Isso porque os povos indígenas vivem e produzem em equilíbrio com a natureza e reconhecem o valor da floresta em pé. Quando esse modo de viver ancestral encontra o cooperativismo, os resultados se amplificam: comunidades geram renda com inclusão e preservação do meio ambiente para as próximas gerações.

Os povos indígenas têm valores e práticas muito alinhadas ao movimento cooperativista, como a valorização do trabalho coletivo, a repartição de resultados e o compromisso com a natureza. Em várias partes do Brasil, cooperativas indígenas têm garantido melhores condições de vida nas aldeias e comunidades, com qualificação da produção local, abertura de novos mercados e garantia de preços justos. 

“Além de gerar renda para os cooperados, as cooperativas de povos originários são muito simbólicas e ricas culturalmente, pois representam as origens do povo brasileiro e valorizam saberes tradicionais e a diversidade”, destaca o coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo. 

coopaiter e7407Tradição e reconhecimento

Em Rondônia, a Cooperativa de Produção de Povo Indígena Paiter Suruí (Coopaiter) mostra como o cooperativismo pode fortalecer a cultura e preservar a floresta com a  valorização dos produtos da sociobiodiversidade. Fundada em 2017, a coop reúne 230 cooperados, que produzem e comercializam castanha, café, óleos vegetais e outros produtos obtidos a partir do extrativismo sustentável na Terra Indígena Sete de Setembro. 

Com rígidos padrões de qualidade e unindo tradição e inovação, a primeira coop indígena de Rondônia respeita a terra e fornece produtos que representam os valores e a diversidade do povo Paiter Suruí. A gerente de produção da Coopaiter, Elisângela Bell Armelina Suruí, explica que o foco da cooperativa é a qualidade e origem dos produtos, não apenas o volume, e que a preservação da floresta é inegociável. 

No caso do café, por exemplo, os cooperados produzem o grão em áreas já abertas, sem desmatar vegetação nativa para plantar novos cafezais. “Nossa produção é feita com respeito à floresta e essa conscientização é repassada para os nossos cooperados e para o povo local. Atuamos junto à comunidade e no nosso território com essa perspectiva de educação ambiental”.

Segundo Elisângela, a presença da Coopaiter na região também contribuiu para reduzir a extração de madeira ilegal e o garimpo, práticas comuns há alguns anos pela falta de oportunidades econômicas para os indígenas. “O maior benefício para os nossos cooperados é a geração de renda, o que traz maior qualidade de vida para eles. Hoje, os associados não precisam sair da terra para ter seu dinheiro e sustentar sua família. Antigamente, os produtos eram vendidos a preço muito baixo, hoje existe um valor de mercado”, afirmou.

Para a representante dos Paiter Suruí, o cooperativismo ajuda a fortalecer o trabalho em grupo e a colocar em prática princípios e valores tradicionais dos indígenas. “O coop nos uniu. Estamos aqui para mostrar que é possível ter uma produção de qualidade sem prejudicar a natureza, apostando em parcerias e na valorização de quem cuida da floresta”. 

coopagi 9befbConhecimento tradicional e bem viver

De Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela, vem o exemplo da Cooperativa Agropecuária Indígena de Pacaraima (Coop’Agi), que reúne indígenas das etnias Macuxi, Wapichana e Taurepang e se tornou referência de organização produtiva de povos tradicionais na Região Norte. 

A coop atua como uma ponte entre os produtores indígenas e o mercado, reunindo a produção de 120 cooperados de 32 comunidades e realizando a comercialização de forma organizada e justa. A Coop’Agi trabalha com melancia, banana, mandioca, batata, abóbora e hortaliças produzidas nas comunidades das Terras Indígenas Raposa Serra do Sol e São Marcos.

Nos dois últimos anos, a coop comercializou aproximadamente 120 toneladas de alimentos por meio  do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que resultaram em mais de R$ 2 milhões em receitas.

Com foco na segurança alimentar, geração de renda e autonomia das comunidades indígenas, a Coop’Agi produz na floresta em áreas de manejo, sem necessidade de abertura de novas áreas, utilizando tecnologias apenas para a correção do solo, com técnicas que respeitam o tempo da natureza e o ciclo da terra.

“Nossa cooperativa trabalha com a junção do conhecimento tradicional com a tecnologia [agroecologia], isto é, aliando a manutenção da cultura e costume dos povos tradicionais com a modernidade. Também colocamos em prática o conceito do desenvolvimento sustentável, que é uma forma de conseguir viver bem explorando os recursos naturais para diminuir a pobreza e ter qualidade de vida, mas sem destruir ou poluir o meio ambiente, para que ele possa ser usado pelas próximas gerações”, explica o diretor presidente da Coop’Agi, Zenilton Saldanha.

Segundo ele, para uma comunidade indígena, o objetivo do trabalho não é apenas transformar a natureza para garantir resultados, mas construir uma sociedade baseada na cooperação e na partilha da riqueza gerada pela própria floresta.

“A Coop’Agi tem exercido um papel importante na sociedade local e regional, permitindo que os povos indígenas Macuxi, Wapichana e Taurepang se organizem, adquiram conhecimentos e consigam colocá-los em prática, contribuindo diretamente para a segurança alimentar, geração de renda e autonomia da nossa comunidade”, destaca o cooperativista indígena. 

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