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Como o cooperativismo ajuda a combater o aquecimento global?

A realização da COP30 – a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – no Brasil, a partir de 10 de novembro, colocou o tema em evidência no país, despertando interesse e preocupação com o aquecimento global e seus impactos sobre a natureza e as pessoas. Para o cooperativismo, essa pauta não é tendência passageira nem novidade, porque o movimento está comprometido com a neutralidade de carbono e as práticas sustentáveis.

Com atuação em vários setores da economia, as cooperativas mostram que é possível unir desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Diante da crise climática, elas demonstram comprometimento com a redução de gases de efeito estufa em ações que combinam soluções ambientais efetivas, fortalecimento das comunidades para lidar com os efeitos climáticos e impulso a uma economia mais verde.

“As cooperativas têm transformado o discurso contra a crise climática em prática. Em diferentes regiões do país, elas desenvolvem iniciativas ligadas à transição energética, segurança alimentar, gestão de resíduos, bioeconomia, agricultura de baixo carbono, finanças sustentáveis e outras frentes que unem desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental”, destaca  Alex  Macedo, coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB – entidade representativa do cooperativismo no Brasil. 

Veja como as cooperativas contribuem para a ação climática com exemplos reais: 

Gestão sustentável de resíduos 

A reciclagem contribui para a mitigação da mudança climática ao reduzir a extração de matérias-primas, o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa liberados na decomposição de resíduos em aterros. No Brasil, as cooperativas são protagonistas nesse setor e, junto com as associações de catadores, recolheram 1,7 milhões de toneladas de resíduos em 2024, segundo o AnuárioCoop 2025. Com esse trabalho, elas evitaram emissões equivalentes a cerca de 1 tonelada de CO2 na atmosfera. 

A Central das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop) é referência entre as cooperativas do setor na América Latina. Com 17 anos de atuação, reúne 22 cooperativas associadas que agregam 1,1 mil catadores de materiais recicláveis, sendo 72% mulheres. Por ano, a central recicla cerca de 12 mil toneladas de resíduos, contribuindo para cidades mais limpas, economia circular e menos emissões de carbono. 

cooperar 1 b05eaAgricultura sustentável e segurança alimentar 

No campo, o cooperativismo agropecuário é um dos motores da transição para uma economia de baixo carbono. Ao estimular práticas sustentáveis, recuperar áreas degradadas e adotar tecnologias limpas, as cooperativas fortalecem os produtores rurais e reduzem impactos ambientais. Além disso, as cooperativas do setor são essenciais para que o Brasil se consolide como um dos grandes produtores de alimentos do mundo com equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade. As cooperativas participam ativamente desse processo promovendo tecnologia no campo, modernização agrícola e organização produtiva.

No Sul do Brasil, a Copercampos é pioneira em inovação para reduzir emissões de CO2 em suas áreas de produção em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a cooperativa criou um programa para avaliar a qualidade de manejo dos solos e identificar as melhores oportunidades de retenção do carbono na terra, evitando a emissão do gás para a atmosfera. 

Uma das técnicas é o plantio direto, em que a semeadura é feita na palha da cultura anterior, sem a necessidade de queimar a área nem revolver a terra, reduzindo a liberação de CO2. A incorporação da matéria orgânica ao solo também mantém a umidade e beneficia a nutrição das plantas, gerando impactos positivos na produtividade.

Bioeconomia 

A bioeconomia é um modelo de negócios baseado no uso sustentável de recursos naturais para a produção de alimentos, energia, materiais e serviços. Nessa lógica, a biodiversidade é utilizada para criar e desenvolver produtos com respeito ao meio ambiente. 

No Brasil, principalmente na Amazônia, o cooperativismo amplia a proteção ambiental, garantindo que a manutenção da floresta em pé gere benefícios diretos para as populações que dela dependem. Também permite que os benefícios da bioeconomia alcancem pequenos e médios produtores, promovendo a disseminação do conhecimento e facilitando a adoção de novas tecnologias no campo. Em uma das áreas mais preservadas da região, a Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar) tem mostrado que é possível produzir de forma sustentável e com manutenção da floresta em pé.

A coop atua em 65 comunidades ribeirinhas ao longo de mil quilômetros do Rio Purus e reúne 161 cooperados que produzem cacau nativo, castanha, óleos, manteigas vegetais, pastas, frutos desidratados. Além de gerar renda para os extrativistas, o trabalho da cooperativa consolida cadeias produtivas da região com respeito à natureza, aos saberes tradicionais e à economia da floresta.

Energia limpa

A geração de energia a partir de combustíveis fósseis – como gás e petróleo – é responsável por mais de 80% das emissões de CO2 em todo o planeta. O desafio para mudar essa realidade é grande e as cooperativas têm feito a sua parte para impulsionar a transição energética justa.  

Segundo o anuário do cooperativismo brasileiro, mais de 900 cooperativas, de todos os ramos, geram energia por meio da geração distribuída, representando 22% do total das cooperativas. Isso significa que, direta ou indiretamente, cerca de 8,37 milhões de cooperados estão ligados à essa iniciativa, seja por meio da geração da própria energia, seja por integrarem cooperativas que adotam práticas sustentáveis. 

Em João Pessoa (PB), a Coopsolar, primeira cooperativa de energia renovável do Nordeste, está ampliando o acesso à eletricidade de fonte solar por meio da geração compartilhada. A coop paraibana tem dez unidades geradoras fotovoltaicas, instaladas na Região Metropolitana de João Pessoa e no interior do estado, e atende a 127 cooperados. A energia produzida pela cooperativa durante um ano equivale à redução de 332 toneladas de CO², ou à preservação de 1.326 árvores.

DCIM/181MEDIA/DJI_1099.JPGEducação ambiental 

Além de ações concretas de combate às mudanças climáticas, o cooperativismo também investe na educação ambiental para ampliar a informação e conscientização sobre o tema e engajar mais pessoas nessa causa.

Iniciativas de reflorestamento, proteção de nascentes, campanhas de descarte correto de resíduos e capacitação de cooperados e colaboradores na área ambiental fazem parte do cotidiano das coops e mostram o compromisso do setor com a agenda da sustentabilidade em todas as dimensões. 

Na Bahia, a Cooperativa de Trabalho Educacional de Porto Seguro (Cooeps) mobiliza estudantes em ações de educação ambiental e iniciativas como mutirões de limpeza em praias, rios e lagoas para reduzir a quantidade de lixo que chega ao mar, garantindo a preservação dos oceanos, um dos focos da ação climática global. 

Saiba mais sobre a participação das cooperativas na Conferência do Clima no site especial Coop na COP30

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