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Cooperativas levam luz e desenvolvimento a comunidades rurais

Em 1966, cansados de esperar que a rede de energia elétrica chegasse à zona rural de Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul, um grupo de pequenos produtores se uniu para fundar uma cooperativa de eletrificação rural. Na época, o objetivo era levar luz a 160 propriedades e ajudar os agricultores a desenvolver os negócios familiares e a ter mais comodidade em casa. Quase 60 anos depois, a Cooperativa Regional de Energia e Desenvolvimento Ijuí (Ceriluz) segue firme em sua missão de iluminar as comunidades da região, com 15 mil associados espalhados em 23 municípios, apenas três deles em perímetro urbano.

“Naquele momento, o estado não tinha interesse em atender o meio rural com a rede elétrica, pelas dificuldades e pelo custo elevado. Então, as cooperativas surgiram para levar energia ao interior e promover o desenvolvimento da zona rural. Hoje a energia cooperativa está em quase todas as cadeias produtivas da região. Temos associados que trabalham com leite, agricultura, pecuária, tudo com nossa energia envolvida”, conta o presidente da Ceriluz Distribuição, Guilherme Schmidt de Pauli. 

Com o crescimento, a Ceriluz se dividiu em três braços: distribuição, geração e internet. Atualmente, a cooperativa possui dez usinas próprias: nove hidrelétricas e uma termelétrica renovável, que utiliza casca de arroz como matéria-prima. A rede de energia cooperativa não apenas viabiliza a expansão de negócios, mas, de fato, muda a vida das famílias. 

“Temos o caso de uma associada que as duas filhas tinham ido estudar em outro estado e ela ficou tocando a produção familiar de morangos. A propriedade estava em decadência, no entanto, após a visita das filhas no final de 2023, isto mudou. Surpresas com a qualidade da energia cooperativa e da internet, decidiram ficar e desenvolver o empreendimento. Atualmente, a família emprega mais de 50 funcionários”, destaca Schmidt. 

Energia cooperativa com propósito

Em seis décadas de atuação, a Ceriluz é um exemplo de como as cooperativas de infraestrutura – setor que inclui as de geração e distribuição de energia – têm transformado a vida de milhões de brasileiros. Assim como em Ijuí, em muitos outros municípios do país, quando nem o poder público nem as empresas se interessavam em levar luz ao interior, foram as cooperativas que permitiram a troca de lampiões e lamparinas pela eletricidade. 

Em todo o Brasil, o cooperativismo é responsável por gerar e distribuir energia elétrica, além de fornecer serviços de telecomunicação, a mais de 800 municípios, segundo o Anuário Coop 2024, garantindo a inclusão produtiva e digital de milhões de pessoas. De acordo com dados da Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestrutura (Infracoop), 67 cooperativas de energia elétrica espalhadas pelo país atendem a mais de 778 mil usuários. Em 2023, foram responsáveis pela distribuição de cerca de 5 bilhões de quilowatt-hora (kWh) de energia cooperativa. Tudo isso com um modelo de negócios justo e com foco nas pessoas.

“No cooperativismo de infraestrutura, assim como em todos os setores em que atuamos, o senso de pertencimento do associado é muito vivo e há muita preocupação com o atendimento. Falando especificamente do nosso sistema, é muito diferente ser associado de uma cooperativa ou receber energia de uma concessionária. Como essas empresas têm uma gama muito grande de consumidores, não existe a preocupação com o associado. Nas cooperativas, o associado é o dono do negócio e é tratado como tal”, destaca o presidente da Ceriluz.  

Mais acesso a renováveis 

Enquanto a Ceriluz representa um exemplo clássico de cooperativa de eletrificação rural, outras cooperativas do setor, como a Cogecom, do Paraná, atuam para levar energia cooperativa limpa e acessível para mais pessoas por meio da geração compartilhada. Embora diferentes, ambas promovem o desenvolvimento sustentável, geram empregos e a independência energética de comunidades.

A Cogecom, cooperativa de geração compartilhada criada em Curitiba, tem cerca de 90% de suas usinas parceiras localizadas no interior do estado ou zonas rurais. Na geração compartilhada, a energia é produzida de forma descentralizada, o que permite a implantação de usinas renováveis fora das concessionárias tradicionais.

Esse modelo de negócio viabiliza, por exemplo, que um morador de apartamento possa ter acesso a energia solar mesmo sem poder instalar as placas fotovoltaicas em sua residência. A cooperativa produz a energia renovável, que ingressa no sistema interligado e gera um crédito equivalente na conta de luz do cooperado.  

“A Cogecom tem por meta ampliar o alcance da energia cooperativa renovável tornando-a acessível a todos, incluindo regiões distantes ou de difícil acesso, e sua atuação vai além de apenas oferecer uma alternativa energética mais econômica, está também ligada à sustentabilidade”, explica a gerente de Marketing da Cogecom, Cleide Marchi. 

Atualmente, a Cogecom atende mais de 60 mil unidades consumidoras, espalhadas por oito estados brasileiros e tem parceria com cerca de 1,8 mil usinas renováveis. Em média, cada cooperado economiza cerca de 20% na conta de luz. Segundo Cleide Marchi, este resultado faz parte de uma tendência, porque as cooperativas de energia compartilhada têm se destacado como uma alternativa sustentável e capaz de oferecer preços competitivos em todo o Brasil.

“A cada dia, mais empresas e residências aderem a essa revolução energética que está transformando o país. A economia gerada não apenas alivia as finanças dos cooperados, mas também possibilita o reinvestimento em seus negócios, aumentando a competitividade e melhorando a qualidade de vida”, aponta a gerente.

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