O coop segue crescendo e chegando cada vez mais longe! Como modelo de negócios do presente e do futuro, é cada vez mais conhecido e reconhecido por brasileiros de todas as regiões do país que veem nele a melhor opção para produzir e oferecer serviços de qualidade e preço justo. Derramando prosperidade de forma igualitária e abrangente, o movimento atingiu 20,5 milhões de cooperados, o que representa 10% da população, de acordo com o último censo do IBGE. Além disso, para cada R$ 1,00 gasto no coop, R$ 2,92 é devolvido para a sociedade em forma de benefícios.
Os dados fazem parte do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2023, divulgado nessa segunda-feira (7) e que apresenta também os resultados de pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para medir os impactos do movimento para a economia do país. O número de empregos diretos criados por conta do movimento saltou de 493.227 em 2021 para 524.322 em 2022. A participação feminina entre os empregados atingiu 51% de representatividade, um aumento de 12% nos dois últimos anos. Nos cargos de liderança, em 2020, elas simbolizavam 17% e, em 2022, cresceram para 22%.
No total, são 4.693 cooperativas presentes em mais de 1,4 mil municípios que geram impactos positivos em outros ao seu redor. De acordo com a pesquisa Fipe, as cidades que contam com a presença de uma cooperativa têm crescimento econômico acima da média e gera mais empregos formais. Os ganhos econômicos medidos evidenciaram um Produto Interno Bruto de R$ 5,1 mil por habitante; 28,4 empregos formais a cada 10 mil habitantes; 16,8 estabelecimentos a cada mil habitantes; US$ 993,2 por habitante em valor exportado; US$ 121,5 por habitante em valor importado; e US$ 96,2 por habitante na forma de incremento de resultado (saldo) comercial.
O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, atribui os resultados prósperos ao comprometimento de todos os envolvidos nos sete ramos do coop (Agropecuário; Crédito; Consumo; Infraestrutura; Saúde; Trabalho, Produção de Bens e Serviços; e Transporte) com o bem comum. Segundo ele, os números expressam o quão sólido é o movimento, que continuará a crescer cada vez mais. “Estamos cada vez mais otimistas em relação ao alcance da meta BRC 1 Tri. Com certeza, até 2027, conseguiremos movimentar financeiramente R$ 1 trilhão, agregar 30 milhões de cooperados e empregar 1 milhão de pessoas”, afirma.
A movimentação financeira do coop em 2022 foi de R$ 655,8 bilhões, 25% superior ao ano anterior quando atingiu R$ 524,8 bilhões. Além disso, os ativos totais atingiram 996,7 bilhões, com uma aumento de 27% em relação a 2021. “Dar visibilidade à atuação cooperativismo brasileiro é estratégico para fortalecer nosso movimento e um convite para que mais se envolvam com esse ciclo virtuoso que promovemos. Certamente vamos alavancar ainda mais nosso modelo de negócios e essa prosperidade que promovemos permanecerá transbordando”, complementa o presidente Márcio.
A análise realizada pela Fipe demonstra ainda que, com base nos dados de ingressos de 2021, a produção resultante do cooperativismo alcançou um total de R$ 866,7 bilhões, o que representa um Valor Adicionado (VA) de R$ 462,4 bilhões (cerca de 6,1% do VA da economia brasileira e 5,2% do PIB) com R$ 30,9 bilhões em impostos arrecadados (cerca de 2,4% da arrecadação total). Além disso, o cooperativismo foi responsável por 10,1 milhões de postos de trabalho (9,4% da força de trabalho e 10,6% dos ocupados) e por R$ 174,6 bilhões em salários.
Nosso jeito diferente de fazer negócios ganhou novo destaque na imprensa e recheou páginas de de cadernos especiais produzidos pelos jornais Valor Econômico e O Globo. As matérias citam desafios do modelo de negócios, o reconhecimento internacional, os benefícios para cooperados e comunidades onde as cooperativas estão localizadas, além de oportunidades em diferentes setores que podem ser aproveitadas pelo movimento e por quem busca uma atividade econômica coletiva e com propósito.
Valor Econômico
Cooperativas buscam primeiro R$ 1 tri, que poderá chegar antes do previsto é o título da reportagem de capa do caderno especial do Valor Econômico. O texto faz referência ao Desafio BRC 1 Tri de Prosperidade, lançado pelo Sistema OCB que visa alcançar movimentação financeira de R$ 1 trilhão, congregar 30 milhões de cooperados e gerar 1 milhão de empregos até 2027. A matéria também destaca que o cooperativismo tem sucesso notório e aponta os atuais números do movimento.
Outro destaque é a matéria Profissionais de TI em cooperativas buscam inovação em equipe. De acordo com o texto, o maior desafio do segmento é combater a falta de conhecimento do mercado sobre o modelo de trabalho nesse setor e a necessidade de transformação digital, que pode levar as cooperativas a aproveitarem novas oportunidades de negócios. Segundo entrevista com a analista técnico-institucional do Sistema OCB, Priscilla Silva Coelho, essas coops começaram a surgir em 1990 e ganharam força a partir de 2010.
A presença de cooperativas no ranking das 300 maiores empresas do mundo também rendeu texto específico no caderno especial do Valor. O texto Ranking das 300 maiores do mundo tem 9 cooperativas compartilha que nove coops brasileiras marcam posição na lista. O Sistema Unimed ocupa a 31ª posição com volume de negócios de US$ 14,8 bilhões e é a quarta maior emprega do segmento de Saúde. No ranking também estão a Coopersucar (60º lugar), Coamo (126º), Sicoob (137º), Sicredi (142º), Cooperativa Central Aurora de Alimentos (156º), C. Vale (183º), Cooperativa Agroindustrial LAR (199º) e Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, (272º).
Os Sistema Unimed e Uniodonto são citados na matéria Cooperativas de agro e saúde estão entre as que mais crescem. O jornal apresenta dados do World Cooperative Monitor (WCM), produzido pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e pelo Instituto Europeu de Pesquisa em Cooperativas e Empresas Sociais (Euricse) para mostrar que a Unimed integra o grupo das 22 cooperativas com maior volume de negócios.
As cooperativas são estratégicas para preservar a biodiversidade, segundo entrevista realizada com o pesquisador Alair Ferreira de Freitas, da Universidade Federal de Viçosa, que compõe a matéria Cooperativas são estratégicas para preservar biodiversidade, diz pesquisador. Alair pesquisa o papel das cooperativas de agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais no desenvolvimento sustentável da Amazônia e que dar visibilidade para essas cooperativas. “Queremos mostrar como elas são importantes para manter a floresta em pé”, afirma.
O pesquisador também cita o Radar de Financiamento, plataforma do Sistema OCB que lista oportunidades de incentivo à pesquisa e desmistifica a burocracia para acesso aos recursos públicos. Atualmente, há 142 oportunidades de financiamento e 56 delas trazem especificação de projetos ligados às práticas ESG (respeito ambiental, cuidado social e boa governança).
As vantagens do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo foram retratadas na matéria Rede aumenta participação no sistema financeiro, que demonstra o caráter inclusivo dessas organizações que têm papel central na oferta de produtos e serviços bancários em pequenos e médios municípios. Outra reportagem sobre o segmento, aponta que ele representa 48% do total de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinados aos dois últimos Planos Safras.
Segundo o texto, as cooperativas são fundamentais para que os recursos sejam distribuídos por conta de sua capilaridade. “A principal modalidade utilizada para levar recursos até o campo e ao pequeno agricultor é a que se vale da intermediação de cooperativas de crédito rural credenciadas. Em três anos, o montante repassado por esses agentes mais que dobrou, saindo de R$ 5,6 bilhões na safra 2019/2020 para R$ 12,1 bilhões na safra 2022/2023, incluindo programas federais operados pelo BNDES e linhas permanentes que utilizam recursos próprios, como o crédito rural”.
O Globo
O caderno especial publicado pelo jornal O Globo também apresenta matérias sobre a força do modelo de negócios cooperativista e apresenta diversos cases e entrevistas com personagens cooperados que comprovam como o movimento consegue, de fato, gerar trabalho, renda e promover prosperidade. O principal destaque do caderno é a matéria Cooperativas crescem e trilham rota da inclusão social, que apresenta dados gerais sobre o cenário atual do cooperativismo na atualidade.
A reportagem Cooperativas ganham mercado no exterior divulga dados importantes sobre o crescimento da participação do setor no mercado internacional, além de cases de sucesso como os da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), em Minas Gerais, que exporta café, da Cooperativa de Produção,Economia Solidária de Agricultura de Campo do Brito (Coofama), em Sergipe, que comercializa mandioca para os Estados Unidos, da Coplana (SP), que produz amendoim com foco na Europa e da Cooperativa Agroindustrial APPC, em Pilar do Sul (SP), que vende frutas para a Europa, Oriente Médio e Ásia, além do Canadá.
A inclusão social promovida pelas cooperativas para pessoas em situação de vulnerabilidade também é destacada na matéria Cooperativas se profissionalizam e viram fonte de renda e inclusão para catadores. Já a reportagem Em busca de mais eficiência na gestão mostra como as cooperativas de transporte estão investindo para aprimorar seus serviços, impulsionar suas atividades e enfrentar a concorrência.
Trabalhar em conjunto de forma sustentável para o alcance de objetivos e do bem comum é a tônica do movimento cooperativista. Em um mundo onde as novas gerações clamam por uma economia mais colaborativa, o coop se mostra cada vez mais atual e relevante. Embora contemple diversos segmentos da economia, e seus princípios e valores sejam anseios da sociedade, o movimento ainda é pouco compreendido pela população.
E é neste sentido que o podcast Braincast fez uma parceria com o Sistema OCB para viabilizar a primeira minissérie sobre o coop neste formato, denominada Coletividade em ação: Reinventando a Economia. Com abordagem de temas variados, o apresentador Carlos Merigo conta, em quatro episódios, a história e os impactos do movimento que já tem quase 200 anos de existência. Cada episódio tem uma duração média de 25 minutos e traz detalhes de como o cooperativismo une desenvolvimento socioeconômico e ambiental à produtividade e bem-estar coletivo e individual.
Para explorar com afinco as potencialidades do cooperativismo na pavimentação da economia do futuro, o apresentador recebe convidados de renome como historiadores especializados no movimento, cooperados, economistas, além de representantes do alto escalão do Sistema OCB.
Logo no primeiro episódio, E se você pudesse ter mais voz no seu trabalho?, o ouvinte entende de forma leve e instigante como surgiu o movimento na Inglaterra pós-Revolução Industrial, como chegou ao Brasil, quais os primeiros mercados a utilizar esse modelo de negócios com fundamentos e particularidades. Para engrossar o caldo, a conversa conta com a participação da gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta, da gerente de relações institucionais, Clara Maffia, e do historiador especializado em coop, Alair Ferreira de Freitas.
O segundo episódio tem como tema Cooperativismo como você nunca viu, o ouvinte conhece os principais fundamentos do movimento e como ele funciona na prática. Neste bate-papo, o seguidor conhece de forma mais aprofundada a atuação nos Ramos Agro, Crédito, Transporte, Serviços, Energia e Saúde, por meio de histórias reais. Nele, participam o gerente de cooperativismo e experiência do cliente da cooperativa Cocamar, João Sadao; a médica pediatra e presidente da Federação Nacional das Cooperativas Médicas - FENCOM, Cáthia Rabelo; o cooperado da paranaense da Cocamar, Renato Watanabe, que fala do case Integração Lavoura-Pecuária-Floresta; além da gerente de relações institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia.
O episódio três, Cooperativismo como você nunca imaginou, evidencia a chave para o crescimento e expansão dos negócios por meio das inovações e práticas ESG – cuidado ambiental, responsabilidade social e boa administração (gestão e governança). Entre os convidados, estão o diretor-executivo do Sicoob do Espírito Santo, Nailson Dalla Bernadina; o head de Cooperativismo e Sustentabilidade/ESG, Romeo Balzan; e Lívia Maria Almeida Duarte, Presidente da Cooperativa Copresa, de Minas Gerais.
Construindo a economia do futuro é a abordagem do quarto e último episódio da série, que explora inspirações e ferramentas do coop para a construção de um futuro mais sustentável, coletivo, justo e igualitário. Participam do bate-papo o palestrante e especialista em inovação, Arthur Igreja; Débora Ingrisano, gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB, e Mário de Conto, superintendente do Sistema Ocergs.
Onde existe cooperativismo, existe desenvolvimento e boas histórias. E é isso que a novela Terra e Paixão começou a mostrar ontem, com a entrada de um novo personagem na trama: o Sicoob — maior sistema cooperativo de crédito do Brasil, que passará a desempenhar um importante papel na trama global.
A cooperativa entrou na novela pelas mãos de Lucinda (Débora Falabella), uma mulher honesta, que trabalha em uma coop agropecuária, e quer ajudar os cooperados a investir em suas propriedades.
"Eu andei fazendo umas pesquisas e percebi, em nossa comunidade, uma dificuldade geral quando o assunto é crédito e investimento", comenta. "Pensei que seria ótimo se a gente trouxesse uma cooperativa financeira para cá".
Em seguida, ela apresenta o Sicoob como alternativa ao banco local — que, na trama, é controlado por Antonio LaSelva (Tony Ramos) — e explica as vantagens do coop de crédito.
"A cooperativa tem tudo o que o banco oferece, as mesmas coisas. A diferença é que os cooperados são donos. Eles participam das decisões e dos resultados", argumenta Lucinda.
Animado com a proposta, o presidente da cooperativa agropecuária, Tadeu (Cláudio Gabriel) dá carta branca para a abertura de uma agência do Sicoob. "Olha, isso aí pode resolver o problema de muita gente aqui da região. Gostei, vamos ter uma agência do Sicoob aqui em Nova Primavera [cidade fictícia onde se passa a novela Terra e Paixão]", conclui.
Vida real
As cooperativas de crédito, na vida real, representam um caminho seguro para o desenvolvimento das comunidades onde atuam. Basta dizer que elas são as únicas instituições presentes em mais de 300 municípios brasileiros, segundo dados do Banco Central.
Segundo o AnuárioCoop 2022, as cooperativas de crédito geram 89 mil empregos diretos e injetam R$ 5 bilhões na economia, apenas com o pagamento de salários e direitos trabalhistas. Quer mais? Elas fecharam o ano de 2022 com uma carteira de crédito de R$ 383 bilhões que, em grande parte, beneficia justamente quem mais precisa e gera riqueza para o Brasil: produtores rurais e pequenos empresários.
Além disso, — como bem explicaram os autores de Terra e Paixão —, ao abrir uma conta em uma cooperativa de crédito, o cooperado torna-se sócio e dono da instituição financeira. A adesão é livre e voluntária, com portas abertas para todos os brasileiros.
"O cooperativismo é um importante agente de inclusão financeira do povo brasileiro", reconhece o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. "É um orgulho saber que, a partir da trama da novela, cada vez mais pessoas conhecerão o modelo de negócios cooperativista e o muito que as cooperativas têm feito pelo Brasil."
Participação nos resultados
Outro diferencial importante das cooperativas de crédito — destacado pela personagem Lucinda, na novela Terra e Paixão — é o fato de os cooperados receberem, no final do ano, uma participação nos resultados financeiros obtidos pela organização (as chamadas "sobras").
Funciona assim: quando uma cooperativa de crédito fecha o ano com resultado financeiro líquido positivo, esse dinheiro é distribuído entre os cooperados. A devolução é proporcional às operações realizadas com a cooperativa: quanto maior o relacionamento e utilização de produtos e serviços, maior a participação nos resultados. Em 2023, o Sicredi distribuiu R$ 2,5 bilhões entre seus cooperados, e o Sicoob compartilhou R$ 5,5 bilhões.
Além da devolução das sobras aos cooperados, as cooperativas de crédito investem diretamente na melhoria das comunidades onde atuam. E fique ligado porque, em breve, apresentaremos mais diferenças entre as cooperativas e as outras instituições financeiras tradicionais.
Serviço
Quer ver como as cooperativas de crédito funcionam na vida real? No episódio 9 da primeira temporada da websérie SomosCoop na Estrada, a jornalista Glenda Kozlowski mostra a história do Sicoob Centro-Sul, em Morrinhos (GO), uma cooperativa financeira com mais de 10 mil donos, que oferece crédito e atenção aos seus cooperados e ainda promove educação financeira e investe na comunidade.
Viúva do dia para noite, ainda em estado de choque, a personagem Aline, interpretada pela atriz Bárbara Reis, procura a cooperativa agropecuária da cidade em busca de apoio. Assim como outras mulheres na agricultura, sua intenção era dar continuidade ao trabalho da família. “Quero plantar, colher, quero progredir. Agora que assumi as terras, quero entrar para a cooperativa”, diz a personagem em um dos primeiros capítulos da novela Terra e Paixão, da TV Globo.
Apesar de ser uma obra de ficção, a semelhança com a realidade não é mera coincidência. Assim como a mocinha de Terra e Paixão, Maria José Borges viu o marido morrer na sua frente, de forma inesperada.
“Fiquei viúva de supetão. Meu marido era um homem saudável. Estava trabalhando junto com a gente na lavoura, paramos para almoçar, ele se sentiu mal e morreu ali mesmo. Deixou a marmita, a enxada, tudo lá no meio da lavoura”, recorda a produtora rural, que vive na zona rural de Poço Fundo, em Minas Gerais.
Aos 60 anos, sozinha e com duas filhas, Maria José teve que assumir a produção de café da família, ao mesmo tempo em que atravessava o luto pela perda do companheiro com que passou 35 anos da vida.
“Foi muito difícil, só eu sei o que passei", relembra. "Uma das minhas filhas estava doente, então eu não sabia se me mexia para acudir as coisas que não podia deixar de fazer, como a lavoura e tudo mais, ou se cuidava dela. Me senti muito frágil, muito deprimida, mas eu sempre pensava 'eu vou vencer'.”
Na hora em que mais precisou, tal como a mocinha de Terra e Paixão, Maria José também buscou apoio em uma cooperativa. Mais especificamente na Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam).
"Eu não queria voltar ao trabalho. Por mim, abandonava tudo. As mulheres da cooperativa foram a minha força, fizeram tudo por mim. Elas diziam: ‘se você não vier, vamos te buscar na sua casa’. E da minha casa à sede da cooperativa são 22 quilômetros, com estrada de terra, porque vivo na zona rural. Isso é união, valor de grupo”, recorda.
Apenas um mês depois da morte do marido, no começo de 2009, Maria José teve de enfrentar outra situação inesperada, que a fez entrar para história da cooperativa. Durante a Assembleia Geral da Coopfam — momento em que os cooperados decidem os rumos da cooperativa por meio de votação democrática —, ela foi informada que teria que votar no lugar do marido. Afinal, agora era a responsável pela produção da família.
“Eu não gosto nem de lembrar da dor, do desespero e da tristeza que eu senti. Eu olhava aquela fila enorme de homens e me sentia sozinha. Chorei o tempo inteiro, enquanto estava na fila para votar", conta. Foi então que, novamente, as mulheres da cooperativa se uniram para apoiar a amiga.
"Elas entraram pela porta e foram me abraçar. Fomos juntas na fila, de mãos dadas, até a urna, para eu votar”, recorda, emocionada.
CAFÉ EXPORTAÇÃO
Com o apoio das cooperadas da Coopfam, Maria José aos poucos retomou as atividades na lavoura. Primeiro, ela contratou trabalhadores. Depois, decidiu se unir a dois primos para seguir adiante com a produção — parecido com a Aline, de Terra e Paixão.
“Eu sempre trabalhei com meu marido, então sabia um pouco do que precisava fazer na lavoura. A gente comunicava tudo ao outro, sobre o que estava fazendo, o que estava gastando, comprando, pagando. Então eu já tinha conhecimento sobre o nosso trabalho”, explica.
Conforme os anos passavam, Maria José foi se destacando na produção de café. E para retribuir o apoio recebido das mulheres da Coopfam, começou a estimular outras cooperadas e esposas de cooperados a conhecer mais sobre a produção e o trabalho de suas famílias. “Sempre falava para elas nas reuniões: procurem saber do trabalho do marido, dos negócios, da vida, saber como tudo funciona. Tinha amigas que não sabiam ir ao banco, nem o que a gente colocava no café”.
A representatividade conquistada, ainda que a contragosto, levou a produtora a se engajar ainda mais no grupo de mulheres da cooperativa — uma mobilização que rendeu frutos para Maria José e as demais cooperadas. Basta dizer que, em 2016, Vânia Lúcia Silva foi a primeira mulher a assumir um cargo na diretoria da Coopfam. Dois anos depois, ela foi eleita presidente da cooperativa — função que exerce até hoje.
A mobilização de mulheres da cooperativa também rendeu uma marca registrada: o Café Feminino, que busca valorizar o grão produzido pelas mulheres cooperadas na agricultura. Com notas de chocolate, leite e mel, a iguaria é uma preciosidade, vendida quase em sua totalidade para os Estados Unidos.
"Um dia um sobrinho me perguntou assim: ‘como vocês fazem para exportar café se vocês viveram na roça a vida inteira, não tiveram a oportunidade nem de estudar direito?’. Eu respondi: nós só sabemos produzir um bom café, mas os nossos companheiros cooperados sabem vender o nosso bom café. Isso é cooperativismo”, resume Maria José — uma Aline da vida real.
RAINHA DA SOJA
Em Floraí, no interior do Paraná, encontramos outra história parecida com a da novela Terra e Paixão. Quando ficou viúva, aos 52 anos, Cecília Falavigna era professora e cuidava dos filhos, enquanto o marido se dedicava à produção de café.
“Quando meu marido morreu de câncer, muita gente falou ‘vende, arrenda, cria gado’. Mesmo sem entender nada de roça, decidi não fazer nada disso e estou aqui, até hoje”, contou a paranaense em entrevista à Revista Saber Cooperar.
Uma mulher na agricultura, sem experiência nem conhecimento sobre os negócios da família, Cecília fez o mesmo que a protagonista da novela: procurou uma cooperativa, no caso, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial — da qual se tornaria conselheira e diretora anos depois.
“Eu disse para a cooperativa: estou aqui, preciso do apoio de vocês. Eu preciso de apoio para poder tocar os negócios da família. Foi aí que comecei. Não tinha noção de quantidade, mas a cooperativa me orientou sobre os alqueires, quanto eu precisava de adubo e de fertilizantes. Esta parte técnica toda ficou por conta da cooperativa”, relembra.
Com muito trabalho, dedicação e horas de estudo sobre tecnologias, mercado e novidades do setor agrícola, Cecília decidiu apostar na diversificação do cultivo e passou a plantar milho, soja e laranja nas propriedades da família.
A ousadia da cooperada paranaense rendeu frutos. Suas duas fazendas, Santa Ana e Esperança, são referência em produtividade, rendendo vários prêmios a Cecília, como o tricampeonato no concurso de máximo rendimento na produção de soja, promovido pela Cocamar. Além do reconhecimento da cooperativa, Cecília recebeu outros prêmios por produtividade, até ficar conhecida como “Rainha da Soja” — título concedido após ela ganhar a premiação de uma multinacional que avaliou a safra de grãos em 2015/2016.
Satisfeita com o muito que realizou, essa "Aline da vida real" vem reduzindo o ritmo de trabalho aos poucos. Agora, ela planeja a sucessão da propriedade, e sonha que o filho assuma os negócios. Até lá — tal como a personagem da novela —, ela fica de olho nas terras. Afinal, nunca se sabe quais riquezas ela pode esconder.
Mais histórias pelo Brasil
Quer conhecer mais histórias de mulheres na agricultura - e em outros ramos - que têm transformado suas realidades por meio do cooperativismo? No terceiro episódio da websérie SomosCoop, veja como cooperadas do Amazonas estão conquistando renda e autonomia por meio da união em cooperativas de transporte, fruticultura, artesanato e de produção de fibra de juta, entre outras histórias.
Na série SomosCoop na Estrada, a jornalista Glenda Kozlowski, também está viajando o Brasil em busca de histórias inspiradoras do cooperativismo. Veja aqui todos os episódios.