O cooperativismo é feito por pessoas e o interesse pela comunidade está entre os princípios do nosso modelo de negócio. Essa preocupação faz com que as cooperativas trabalhem desde sempre com responsabilidade social, conceito ligado a uma das letras da sigla ESG — do inglês Environmental, Social and Governance, que se traduzem como meio ambiente, social e governança.
Apesar de o conceito ter sido criado há menos de 20 anos, o compromisso com as pessoas e as comu-nidades faz com que o cooperativismo tenha muita aderência à agenda ESG, principalmente em relação ao pilar “S”, de social — ligado ao cuidado com as pessoas, incluindo tanto a valorização dos cooperados e dos colaboradores quanto o desenvolvimento da comunidade na qual a cooperativa está situada.
Na prática, o S de ESG estimula as cooperativas, empresas e organizações a zelarem pelas seguintes atividades dentro do seu dia a dia:
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Boas práticas de transparência e integridade
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Avaliação de riscos e oportunidades relativos a saúde e segurança no trabalho
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Inclusão, diversidade e equidade
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Boas práticas trabalhistas
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Respeito aos direitos humanos
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Incentivo à educação e formação
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Relacionamento com a comunidade, com fornecedores e demais partes interessadas
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Conformidade social das atividades que uma cooperativa realiza.
Viu como essa lista tem tudo a ver com o jeito diferente de fazer negócios do cooperativismo? Um levantamento inédito realizado pelo Sistema OCB comprovou que as cooperativas brasileiras estão afinadas com a pauta ESG e se destacam em quesitos como cumprimento de leis e normas, conformidade social e ambiental, além de boas práticas trabalhistas.
De acordo com o diagnóstico ESG AvaliaCoop, na análise específica da dimensão das cooperativas brasileiras têm 81,71% de aderência aos indicadores de conformidade social; 62,22% em quesitos de boas práticas trabalhistas, e 61,07% em relação a apoio ao desenvolvimento das comunidades.
No dia a dia, o caráter humanizado do cooperativismo é traduzido na prática em ações de impacto na vida dos cooperados, colaboradores e das comunidades, em investimentos com retorno social. Os exemplos estão espalhados por todo o país e em cooperativas de todos os ramos, da área de saúde ao cooperativismo de crédito.
Diversidade no campo
Com unidades no Paraná e Tocantins, a Frísia Cooperativa Agroindustrial, uma das maiores e mais antigas cooperativas agropecuárias do país, mostra que no cooperativismo o ganho vai muito além dos resultados financeiros. Com quase 100 anos de atuação, a cooperativa incluiu entre as diretrizes de seu planejamento estratégico o cuidado com as pessoas e a aposta no investimento social para a transformação positiva da sociedade.
De acordo com o coordenador de Eventos e Cooperativismo da organização, Luciano Tonon, o cooperativismo tem um papel fundamental na redução das desigualdades sociais no campo e as cooperativas são protagonistas dessa tarefa por sua atuação sistêmica junto aos cooperados e suas comunidades.
As cooperativas já nascem de uma necessidade social, de objetivos comuns e compartilhados”, explica o gestor. “Por estar em sua essência, o desenvolvimento econômico sempre vai estar voltado às necessidades de todos àqueles que fazem parte do negócio, o que acontece, principalmente, se as suas comunidades estão fortalecidas”.
Para Toulon, o fato de a Frísia estar há quase cem anos no mercado deve-se ao fato de ela ter entendido a importância do social desde o início de suas atividades, trabalhando com transparência, processos democráticos e integridade. “Boa parte dos nossos resultados são redistribuídos para os cooperados, trazendo viabilidade e competitividade para o campo. Em tudo o que fazemos, trabalhamos aspectos diretos e indiretos para o bem-estar das comunidades”, explica.
O investimento social da Frísia é feito por meio de programas contínuos e de forma transversal, apoiando causas sociais ou mitigando impactos das atividades da cooperativa.
A coop tem iniciativas relacionadas à diversidade, sucessão, etarismo, educação, formação e inclusão. Por meio da Fundação Frísia, os cooperados e a comunidade têm acesso a serviços médicos, ginásio de esportes e clube social para entretenimento e bem-estar. Além disso, a cooperativa promove ações socioculturais para a população em suas áreas de atuação e desenvolve programas de formação, capacitação e entrada no mercado de trabalho.
NUMERÁRIA Conformidade das cooperativas brasileiras ao pilar Social do ESG 81,7% de aderência a indicadores de conformidade social 62,2% a quesitos de boas práticas trabalhistas 61,9% em relação ao apoio ao desenvolvimento das comunidades |
Mulheres impulsionam negócios
Entre as iniciativas sociais da Frísia, também se destacam as ações de inclusão produtiva de mulheres, com incentivo ao empreendedorismo feminino e à formação de lideranças. Segundo Tonon, a cooperativa acredita no fortalecimento da participação feminina como uma forma de impulsionar os negócios.
“As mulheres têm buscado seu aperfeiçoamento em gestão, e isso tem resultado no crescimento das propriedades agropecuárias, verticalização dos negócios e inovação. Além disso, desempenham um papel importante na contribuição de novas estratégias e integram diversos comitês na cooperativa, sempre apoiadas pelo Conselho de Administração”, afirma o coordenador.
Como forma de reconhecer essa relevância e estimular o aumento da presença feminina em todas as instâncias da cooperativa, a Frísia criou o Prêmio Mulheres que Inspiram. “A premiação valoriza o protagonismo da mulher no campo, reconhece sua contribuição para o agronegócio e tem o objetivo de fortalecer o cooperativismo e incentivar o trabalho da mulher no meio rural com sustentabilidade”, explica Luciano Tonon.
Na primeira edição, o Prêmio Mulheres que Inspiram reconheceu três produtoras cooperadas da Frísia: Ju-liana dos Santos Ventura, do Paraná, da área de Pecuária Leite; Deborah Gerda de Geus também do Paraná, na Pecuária Suínos; e Dorotea Hildenbrandt Weigand, de Tocantins, na área agrícola.
“Com ações como essas, a Frísia compartilha as boas práticas, sendo um aprendizado, incentivo e motivação às demais mulheres”, pondera o coordenador.
Agentes de transformação
Apoiar as mulheres no campo também é um dos objetivos de uma iniciativa de investimento com retorno social da Cooperativa Agrícola Água Santa (Coasa), uma cooperativa do Ramo Agropecuário que atua no interior do Rio Grande do Sul.
Há três anos, o Programa Consumo Sustentável da Coasa desenvolve atividades de formação com mulheres agricultoras para que elas possam implementar práticas sustentáveis em suas propriedades rurais. O programa já atendeu diretamente mais de 100 famílias, com ações de incentivo à produção diversificada de alimentos, plantas bioativas, aproveitamento integral de alimentos e manejo ecológico das lavouras.
Os resultados são tão positivos que o Programa Consumo Sustentável foi um dos projetos contemplados pelo Fundo Social do Sistema Ocergs. A entidade representativa das cooperativas gaúchas selecionou dez projetos de cooperativas com impactos nas áreas de educação, saúde, cultura, integração social, geração de renda e meio ambiente. Juntas, as iniciativas receberam, em 2023, investimento de R$1,7 milhão e devem beneficiar mais de 30 mil pessoas em todo o Rio Grande do Sul, entre cooperados e comunidades.
É importante destacar que o investimento social ligado à agenda ESG não é o mesmo que filantropia. Muitas cooperativas brasileiras estão diretamente envolvidas em ações que beneficiam pessoas em situação de vulnerabilidade, com doação de alimentos, prestação de serviços, atividades de inclusão social, entre outras. Todas essas iniciativas são positivas, bem-vindas e também demonstram o comprometimento do cooperativismo com as pessoas e as comunidades, mas são consideradas ações filantrópicas e não estratégias da dimensão S do ESG. Na filantropia, o objetivo é promover ações pontuais em benefício de segmentos so-ciais vulneráveis ou expostos à exclusão e à discriminação. Já o investimento com retorno social está ligado a iniciativas de impacto, que, além de transformar a realidade das pessoas envolvidas, geram oportunidades de negócio e se tornam um diferencial competitivo para quem as realiza. Quer um exemplo prático? Um grupo de pequenos agricultores cooperados teve a safra prejudicada pelas chuvas e perdeu parte da produção, reduzindo sua fonte de renda. Doar alimentos e outros itens para as famílias, enquanto enfrentam dificuldades financeiras, é uma ação de filantropia necessária e oportuna. Em outra frente, oferecer capacitação para que os produtores aprendam a lidar com eventos climáticos extremos e fornecer insumos que possam melhorar o trabalho nas lavouras é uma estratégia de negócio, um investimento com retorno social. Assim como as outras letras da sigla, a dimensão S do ESG busca contribuir para a sustentabilidade do negócio e das pessoas. |
O SomosCoop apresenta uma nova iniciativa que conta histórias de pessoas reais que tiveram suas vidas transformadas pelo cooperativismo, o podcast PodCooperar. O objetivo do projeto é divulgar os princípios e benefícios do modelo de negócios para toda a população, com casos de prosperidade e uma visão sobre o impacto positivo que ele proporciona também para famílias, comunidades e sociedade como um todo.
Dividido em oito episódios, cada um dedicado a um dos ramos do cooperativismo, o PodCooperar também destaca a relevância desses segmentos na construção de realidades mais fortes e resilientes. Assim, os relatos abordam histórias ligadas à agropecuária, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho, produção de bens e serviços, e transporte.
Os episódios mergulham na experiência de pessoas que encontraram uma oportunidade de negócios e uma verdadeira rede de apoio mútuo nas cooperativas. As histórias mostram como o cooperativismo ultrapassa o aspecto econômico e toca vidas, construindo relações sólidas e oportunidades que geram emprego, renda e dignidade de forma inclusiva e sustentável.
O capítulo de abertura conta a história de Maria Eneide Pereira Costa, mulher que enfrentou condições de vida desafiadoras no maior depósito de lixo da América Latina, localizado no Distrito Federal, e que, quando se tornou cooperada, transformou sua realidade. Ela encontrou no cooperativismo uma fonte de esperança e fortalecimento familiar.
A vida de Maria Luiza Prestes é o tema do segundo episódio. Ela é ex-empregada doméstica, se tornou sócia de uma cooperativa no Rio Grande do Sul e pôde concretizar seus sonhos após a chegada da energia elétrica em sua casa, fornecida também por uma coop da região.
Garibaldi Murtosa Júnior, por sua vez, é protagonista do terceiro episódio, que conta a história de um menino mineiro que realizou o sonho de ser médico e teve no cooperativismo o apoio que precisava para construir a sua carreira. Para ele, o movimento é mais que um negócio, é uma filosofia de vida.
Motorista de caminhão, Flávia Reis conta, no quarto episódio, como se tornou cooperada aos 40 anos, quando buscava, junto com seu marido, uma nova forma de trabalho e renda. O casal conheceu o cooperativismo por meio de um familiar e, com apenas um caminhão, começaram uma nova história. Hoje, cada um tem seu veículo e o negócio prospera de forma inspiradora.
Na sequência, o Podcooperar relata como a cooperativa de crédito Ailos contribuiu para alavancar os negócios da família de Paulo Berkenbrock, proprietário de uma loja de roupas e acessórios para surfe e skate em Blumenau (SC).
Antônio Albardeiro é cooperado desde 1968 e compartilha uma trajetória cooperativista de 44 anos ao lado de sua esposa, Dona Conceição. A residência construída por eles é mobiliada com peças produzidas na cooperativa. Para o casal, os associados são mais do que colegas, são uma extensão da família. Semanalmente, eles fazem compras na cooperativa próxima de casa. A filha do casal, Samara, segue os passos dos pais e, atualmente, é uma cooperada também. Os detalhes dessa história podem ser acompanhados no sexto episódio da série.
O engenheiro ambiental Anderson Moreira foi criado na floresta e começa seu dia às cinco horas da manhã, quando vai para a lavoura. Durante a tarde, se dedica à poda de plantas, adubação do solo e colheita. A Cooperativa Camta, em Tomé Açú, no Pará, adquire todos os produtos cultivados em suas terras. Para Anderson, a coop é a base do seu sustento, desde a comercialização de seus produtos até a oferta de assistência técnica necessária. O cooperativismo entrou na sua vida por meio de seu pai, que deixou o Maranhão em busca de oportunidades e iniciou um plantio agroflorestal para subsistência. Atualmente, Anderson concentra seus esforços na preservação da floresta e investe em energia limpa.
Leilane Sales é a personagem do último episódio. Ela descobriu no presídio que a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) poderia mudar sua vida. Com capacitação profissional e fonte de renda, ela conseguiu desenvolver habilidades em bordado e viu potencial para ser artesã. Durante sua caminhada, Leilane se tornou presidente da Coostafe.
Os episódios apresentam desfechos que proporcionam uma visão única sobre a importância das cooperativas em vários ambientes e situações. Os Ouvintes podem aguardar momentos surpreendentes que os farão se conectar com trajetórias que retratam a diversidade e o potencial do movimento cooperativista.
O primeiro episódio já está no ar e o segundo estará disponível nesta quarta-feira (29). Os demais serão lançados a cada duas semanas no Spotify do canal SomosCoop e no site SomosCoop.
Sintonize no SomosCoop e faça parte desse movimento.
Os 195 países-membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) se preparam para mais uma rodada de negociações sobre iniciativas que possam frear o ritmo do aquecimento global. A 28ª Conferência das Partes (COP 28) ocorrerá em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, e atrairá os olhos do mundo em um ano especialmente quente, que registrou temperaturas recorde em vários continentes.
Além de chefes de Estado, diplomatas e outros representantes de governos, a COP 28 reúne representantes da sociedade civil — incluindo o cooperativismo brasileiro, que mais uma vez estará presente nos debates sobre o futuro climático. Afinal, as cooperativas são reconhecidas pela própria Organização das Nações Unidas (ONU) por seu protagonismo em boas práticas ambientais e a agenda climática faz parte desse compromisso com a construção de um mundo mais sustentável.
“Quando falamos em COP do Clima, temos a premissa de que todos devem participar, ou seja, toda a comunidade. E o cooperativismo é a chave para que as pessoas participem desse processo de descarbonização da economia mundial. O combate à mudança climática depende do envolvimento de toda a população mundial e o cooperativismo permite que as pessoas participem nesse processo”, afirma o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.
Com esse foco, o Sistema OCB levará à COP 28 iniciativas de cooperativas brasileiras que estão contribuindo para a redução de emissões de gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2). O cooperativismo terá destaque no Espaço Brasil, um pavilhão organizado pelo governo para mostrar iniciativas nacionais, públicas e privadas, de combate à mudança do clima.
Em um painel exclusivamente cooperativista, com o tema “Cooperativas Aliadas do Desenvolvimento Sustentável e da Segurança Alimentar”, o Sistema OCB apresentará casos de cooperativas que estão ajudando a promover a sustentabilidade em diversas frentes.
“Além das cooperativas, teremos duas convidadas internacionais em nosso painel. Compartilharão experiências regionais a Diretora-Geral da ACI [Aliança Cooperativa Internacional] na África, Chiyoge B. Sifa, e também a presidente da ACI Europa, Susanne Westhausen. Elas farão apresentações sobre a contribuição do cooperativismo para o desenvolvimento sustentável na África e na Europa, mostrando a eficácia na diversidade do nosso modelo de negócios”, antecipa o coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, João Martins.
Protagonismo
A atuação das cooperativas para um futuro mais sustentável e com menos emissões de CO2 também será apresentada em outras atividades da COP, tanto na parte governamental quanto em eventos liderados pela sociedade civil e em rodadas de negócios sustentáveis que ocorrem paralelas à conferência.
Em outubro, uma delegação de representantes do governo que participará da COP 28 percorreu seis cooperativas do Paraná e do Pará para conhecer iniciativas que são referência na produção sustentável cooperativista.
Segundo Martins, essa será a maior participação das cooperativas brasileiras em uma Conferência do Clima. “Na COP 26, tivemos uma participação ao lado do Ministério do Meio Ambiente, e falamos de um case do cooperativismo. Na COP 27, tivemos a possibilidade de apresentar algumas cooperativas, mas em uma participação remota, e agora na COP 28 vamos ter essa participação mais robusta do cooperativismo”, compara.
Nosso movimento acaba de ganhar um presente! A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a resolução Cooperativas no desenvolvimento social, consagrando o ano de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Essa decisão reconhece o papel do nosso modelo de negócios no desenvolvimento econômico e social de várias comunidades, a inclusão de mulheres, pessoas com deficiência e povos indígenas, além da contribuição para erradicar a fome e a pobreza.
A resolução foi aprovada por unanimidade e, com ela, o cooperativismo terá ainda mais visibilidade para ser reconhecido como o caminho para a distribuição de renda, geração de empregos e aumento da prosperidade de pessoas no mundo todo. Por isso, Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, órgão máximo de representação do movimento no Brasil, celebrou com entusiasmo a decisão.
Na visão dele, esse reconhecimento é como um carimbo de aprovação nos propósitos e princípios defendidos pelo cooperativismo. "O foco do nosso movimento é tornar o mundo mais justo, próspero e com melhores oportunidades para todos. São fundamentos que atendem aos anseios da população mundial na atualidade e merecem ser conhecidos e reconhecidos", disse.
O título significa que a ONU irá incentivar seus 195 países-membros a fortalecer suas cooperativas. A ideia é impulsionar as ações de cooperação técnica, transferência de conhecimento e dar voz ativa para os representantes cooperativistas em decisões locais, regionais e globais. “Incentivamos todos os estados-membros a aproveitarem o ano como forma de aumentar a sensibilização para a contribuição das cooperativas na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e para o desenvolvimento social e econômico global”.
Segundo Andrew Allimadi, ponto focal da ONU para Cooperativas, 2025 será um ano cheio de trabalho marcado pela cooperação. "Espero que seja possível avançar em políticas públicas para o movimento no mundo todo".
Enquanto o mundo corporativo começa a abrir os olhos para a necessidade de cuidar não apenas de resultados financeiros, mas do desenvolvimento social, ambiental e da governança, o cooperativismo mostra – mais uma vez – que segue à frente do seu tempo. Pesquisa inédita realizada pelo Sistema OCB, em âmbito nacional, revela: as cooperativas brasileiras já estão afinadas com a pauta ESG (veja quadro). Elas se destacam em quesitos como o cumprimento de leis e normas, conformidade social e ambiental e práticas trabalhistas. Unindo todos os quesitos, a aderência das coops chega a 51,3% — mais da metade de todos os itens avaliados.
Para o presidente do Sistema OCB, Marcio Lopes de Freitas, o achado mais importante da pesquisa DIagnóstico ESG — realizada em parceria com a Galia Consultoria, empresa com 21 anos de experiência na área de consultoria em sustentabilidade e estratégias ESG, com as confederações dos ramos Crédoto e Saúde, além das Organizacões Estaduais cooperativistas.— foi a confirmação de que os cuidados com as pessoas, com o meio ambiente e com a ética na gestão são parte indissociável do do dia a dia das cooperativas brasileiras.
“O ESG está na lista de prioridades da pauta cooperativista", elogia o presidente. "Muitas cooperativas já estão engajadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). No universo coop, as principais lideranças já têm conhecimento de ESG. Estão todos muito cientes do tema, esse é o principal achado.”
Já a especialista em sustentabilidade e estratégias ESG, Rosilene Rosado, sócia-fundadora da Gália Consultoria, destaca que a pesquisa trouxe insights importantes para o amadurecimento das práticas sociais, ambientais e de governança das cooperativas.
“O cooperativismo, por princípio, possui vocação natural para práticas sustentáveis, especialmente nas dimensões sociais e de governança. O caráter humanizado do cooperativismo, evidenciado pela forte aderência às práticas como saúde e segurança do trabalho, educação e envolvimento comunitário, reflete uma vocação intrínseca de priorizar o bem-estar humano. A conformidade ambiental também é um indicador da responsabilidade das cooperativas em atuar dentro das normas e regulamentações e interessar-se pelas comunidades onde atuam. Além disso, o foco em ética, integridade e relacionamento estreito com os cooperados sublinha o seu compromisso com uma governança robusta”, avalia Rosilene.
Dimensão ESG |
Principais achados da pesquisa |
Onde as cooperativas se destacam positivamente |
Principais desafios do setor |
Ambiental (o E de Enviroment) |
As cooperativas empenham esforços consideráveis para estar em conformidade com as legislações ambientais no Brasil, que englobam legislações federais, estaduais e municipais. |
*Conformidade ambiental (67,59%) *Respeito à biodiversidade (48,4% de aderência às melhores práticas do mercado) * Uso de fontes de energia renováveis (44,19% de aderência) |
*Combate ao aquecimento global *Uso consciente de água *Geração de resíduos |
Social |
O coop brasileiro está em conformidade social, especialmente nas práticas de trabalho, saúde e segurança do trabalho, educação e formação, e envolvimento com as comunidades. |
*Conformidade social (81,71% de aderência) Boas práticas trabalhistas (62,22% de aderência) Apoio ao desenvolvimento das Comunidades (61,97%) |
*Relação com fornecedores
*Inclusão, diversidade e equidade
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Governança |
O relacionamento com cooperados, a ética e a integridade da gestão foram os tópicos mais proeminentes dentro das cooperativas entrevistadas. Esses resultados evidenciam a proximidade e a confiança que as cooperativas cultivam com seus membros, assim como um compromisso com a condução ética de seus negócios. |
*Relacionamento com cooperados (59,63% de aderência) *Relacionamento com partes interessadas (51,09% de aderência) |
*Análise de impactos da atividade *Riscos e oportunidades ESG * Análise de materialidade, ou seja, capacidade de a cooperativa medir os impactos de suas atividades por meio de indicadores ESG, como o acompanhamento da emissão anual de CO2, o retorno financeiro de programas sociais, etc. Essa medicão ajuda a cooperativa a avaliar sua capacidade de ntregar valor em curto, médio e longo prazo, gerando, inclusive, impacto financeiro à organização
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SOBRE A PESQUISA
O diagnóstico nacional – feito em projeto piloto – foi aplicado em 365 cooperativas de 19 unidades da Federação. A maior parte delas – 258 (71%) – é ligada ao ramo crédito. Em seguida, vêm 43 (12%) do ramo saúde, 31 (8%) do setor agropecuário, outras 31 do ramo infraestrutura e 2 (1%) de outros segmentos.
Cada cooperativa respondeu um questionário de 99 questões em uma plataforma online. As perguntas foram elaboradas com base em uma série de normas, padrões, acordos, tratados e convenções reconhecidas globalmente. O diagnóstico incorporou diretrizes como as Normas da Global Reporting Initiative (GRI), os Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, Convenções da OIT, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as diretrizes da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD).
Com o diagnóstico, pensado e criado para a realidade e o modelo de negócio cooperativo, foi possível mapear o que existe no Brasil. O intuito é poder avançar a partir das descobertas e, em 2024, o Sistema OCB pretende disponibilizar a pesquisa para todas as cooperativas do Brasil em uma plataforma própria, que está sendo desenvolvida para este fim. Nela, além dos próprios resultados, a cooperativa pode fazer comparações com os níveis de aderência de outras coops do seu ramo e, ainda, com os índices nacionais do nosso próprio sistema, em cada um dos temas que ela respondeu. A cooperativa também contará com uma devolutiva que apresentará possíveis pontos de melhoria, visando a reflexão e a evolução da aderência à pauta ESG.
“Responder esse diagnóstico faz com que cooperativas criem mais consciência, pensem sobre processos – olhem para si mesmas – mas também entrega oportunidade de as coops se capacitarem para que entendam melhor do que se trata e se engajem mais nesse mundo”, diz Tomás Nascimento, analista de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB.
O coordenador de sustentabilidade do Sistema Ailos, Adael Juliano Schultz, concorda e acrescenta: a pesquisa foi um momento de reflexão muito importante para a cooperativa.
"Participar da construção do questionário, liderado pelo Sistema OCB, e estimular nossas cooperativas a participarem, preenchendo o questionário para chegarmos a um diagnóstico, foi extremamente estratégico", comemora Adael. "Agora, a gente consegue visualizar, de uma maneira sistêmica, o desempenho, a nossa aderência às práticas que tanto falamos.”
DESAFIOS
Apesar da aderência às práticas ESG, o analista de desenvolvimento de cooperativas Tomás Nascimento destaca, como desafio, o maior alcance de metas ligadas à parte ambiental. “É um grande desafio não só para o coop, mas para o mundo, de forma geral. É um tema urgente. O clima está mudando em função da atuação humana”, afirma destacando como exemplo as altas temperaturas enfrentadas em todo o globo durante o ano de 2023.
Além disso, há uma tendência no mercado de privilegiar instituições que, de fato, façam a diferença para o meio ambiente e também nos outros dois pilares do ESG. Já está, inclusive, em estudo, no Congresso Nacional, a regulação do mercado de carbono e alguns países da União Europeia exigem certificados que comprovem boas práticas de sustentabilidade para exportação de produtos agropecuários.
Na avaliação de Nascimento, além da urgência ambiental que deve ser encarada da maneira mais séria e responsável possível, estar atento aos critérios de ESG é mais uma oportunidade de o cooperativismo se diferenciar. “É importante para o mundo cooperativo porque isso coloca as coops no mercado. Já tem o diferencial do modelo de negócios que é horizontal, justo e transparente , mas para garantir que as cooperativas continuem a competir em alto nível é importante que elas comprovem que são sustentáveis por meio dessa metodologia que sustenta o ESG”, destaca.
“O mercado e o mundo estão se organizando e se regulamentando para garantir que o ESG de fato aconteça. E ele só vai acontecer por meio da comprovação de que você é sustentável. Isso é importante para ser mais competitivo e garantir fatia do mercado”, conclui.
EXEMPLO NO SERTÃO
Na cidade de Irecê, sertão da Bahia, a maior cooperativa educacional do estado, a Cooperativa de Trabalho Educacional de Irecê (Coperil), está provando que a sustentabilidade não é apenas uma palavra da moda, mas um compromisso sólido com o futuro. Com uma política de sustentabilidade ousada e abrangente, a Coperil tem se destacado como um exemplo de como as cooperativas podem integrar o tripé da sustentabilidade - econômico, social e ambiental - em suas operações.
A sustentabilidade começa no telhado da Coperil, onde painéis solares transformam os raios de sol em energia limpa e renovável. Essa medida economiza custos e reduz a pegada de carbono da escola. Os alunos aprendem sobre as vantagens da energia solar e vivenciam sua aplicação prática.
Já a água recebe um tratamento diferenciado. O recurso condensado pelos sistemas de ar-condicionado é cuidadosamente coletado e usado para irrigar o jardim da educação infantil, criando um ciclo de sustentabilidade que inspira respeito pela natureza nas mentes de todos os estudantes.
A coleta seletiva serve como uma valiosa experiência educativa. Os alunos não apenas aprendem sobre a importância de reduzir, reutilizar e reciclar, mas também têm a oportunidade de ver isso acontecendo dentro da Coperil. O lixo reciclável é encaminhado para cooperativas de reciclagem locais, promovendo a intercooperação, um dos princípios do cooperativismo.
A cooperativa adotou ainda algumas estratégias para minimizar ao máximo o uso de papel. Isso inclui a impressão em frente e verso, a reutilização de papel impresso e a transformação de conteúdo impresso em formato digital.
“Nossas práticas, como a coleta seletiva, o uso de energia solar, a redução do consumo de papel, o reaproveitamento da água dos ares-condicionados, dentre outras, beneficiam o meio ambiente e também fortalecem a educação que oferecemos tornando nossos estudantes cidadãos conscientes e, sobretudo, multiplicadores sociais que compreendem o valor de agir de maneira sustentável. Isso é uma herança duradoura para nossa comunidade”, avalia a diretora executiva da cooperativa, Alaerte Arônia.
SERVIÇO
Quer saber mais sobre o Diagnóstico ESG do coop brasileiro? Então assista ao vídeo gravado pela gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB, Débora Ingrisano:
https://www.youtube.com/watch?v=btaxQ9rwpYE
Explicando o conceito de ESG
O termo ESG (do inglês environmental, social and governance – meio ambiente, social e governança) tem ganhado grande visibilidade, graças a uma preocupação crescente do mercado sobre a sustentabilidade. As questões ambientais, sociais e de governança passaram a ser consideradas essenciais para o mundo corporativo, colocando forte pressão sobre o setor. Por isso, cada vez mais organizações buscam entender o que é ESG e as adaptações necessárias para estar em conformidade com as exigências.
Em 2004, em um discurso para os 50 presidentes das maiores instituições financeiras do mundo, o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, fez um desafio. Ele pedia soluções para integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais até 2030. Surgiu daí a sigla ESG.
O movimento nasceu no mercado financeiro e ganhou corpo, metodologia e indicadores. Há métricas para mostrar o que as instituições fazem em termos de sustentabilidade nas 3 dimensões. Isso é importante porque o mercado exige e o planeta precisa!